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ROGÉRIO NERY ENTREVISTA: LUIZ ALBERTO GARCIA (ALGAR)

 

Uma palavra só não seria suficiente para resumir o perfil de Luiz Alberto Garcia, presidente
de honra do Conselho de Administração do Grupo Algar.

Em um documentário sobre a sua vida, o empresário foi chamado de “sonhalizador”, neologismo
que junta as palavras sonhador e realizador.

“Ele é aventureiro, curioso, questionador, zeloso e cuidadoso com a família e seus associados
– como gosta de chamar. Um líder, um exemplo, um amigo de sempre que, sempre que posso,
busco ouvir e com sua sabedoria me aconselhar”, diz o CEO da Rede Integração, Rogério Nery
de Siqueira Silva, ao definir o empresário que fez da Algar uma companhia reconhecida no
Brasil e no exterior.

Nascido em Uberlândia (MG), Garcia promoveu uma expansão que transformou a holding
em uma das potências empresariais do País, atuando nos setores de Tecnologia da Informação
e Comunicação (TIC), Entretenimento e Agro.

Mas nada veio sem esforço. Formado em engenharia eletrônica pela Escola Federal de
Engenharia de Itajubá (MG), em 1959, Garcia cumpriu um estágio na sede da Ericsson, em
Estocolmo (Suécia). No retorno ao Brasil, passou a trabalhar no Grupo, que controlava
negócios nos setores automobilísticos e industrial e a CTBC (Companhia de Telecomunicações
do Brasil Central), embrião da Algar Telecom.

A liderança de Luiz Alberto multiplicou o alcance da Algar e fez dele um dos empresários mais bem sucedidos do País, levando seu nome a figurar na Forbes, ainda nos anos 90.

Gradualmente, ele preparou sua sucessão – hoje o grupo é liderado por Luiz Alexandre e administra vários braços: Algar Telecom, Algar Tech, Algar Farming e Aviva.

A joia da coroa é a Algar Telecom, presente em 16 estados e que ano após ano ganha sucessivos prêmios: eleita a mais inovadora empresa de telecomunicações do Brasil em 2019 no ranking da Strategy& (PwC) e do jornal Valor Econômico; e a mais sustentável do setor de telecomunicações pela revista Exame, entre outros reconhecimentos.

Nessa entrevista, Rogério Nery faz 10 perguntas a Garcia.

São temas variados: dos efeitos da pandemia de Covid-19 até a crescente inserção de empresários no cenário político. Ele também fala sobre a chegada do 5G:

“Os desafios [de implementação do 5G], como sempre acontece, são os monetários e a escala de implantação. Nos grandes centros, com grande concentração de usuários, teremos que usar frequências mais altas, reduzindo consideravelmente sua área de cobertura, tendo como consequência a necessidade de mais estações. Nada que não possa ser resolvido. É a beleza da coisa.”

Veja a entrevista:

1 – Rogério Nery – O Brasil é um dos países que mais vêm sendo impactados pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). A que o senhor atribui esse quadro e, em linhas gerais, o que precisa ser feito para atenuar os efeitos sanitários, econômicos e sociais até que surja uma vacina?

Luiz Alberto Garcia – Estamos passando por um momento sem precedentes. Uma pandemia de um “vírus” que não respeita barreiras. Isto mostra que somos todos interdependentes. Neste momento precisamos ser resilientes e responsáveis. São necessários recursos e ações conjuntas de vários stakeholders para ajudar na questão social e sanitária do País. Garantir equipamentos e leitos, máscaras e alimentos para quem necessita neste momento. Em relação à economia, infelizmente, ela está desorganizada, principalmente a economia informal e os efeitos sociais se mostrarão mais acentuados nas classes menos favorecidas. A vacina pode sair de uma hora para outra, mas sua previsão é de longo prazo. Então, precisamos que todos tenham empatia e façam a sua parte nesse momento.

2 – Rogério Nery – Muito se fala que a pandemia irá causas transformações em diversos âmbitos – políticas, econômicas, sociais, culturais, comportamentais. Na sua visão, o que de fato irá mudar no Brasil e no mundo?

Luiz Alberto Garcia – Sinto falta das viagens e contato com nossos colaboradores. Nunca fui de escritório. Gosto do contato com as pessoas, de estar próximo. Dentro do possível tenho mantido a minha rotina, principalmente nos exercícios físicos, e participado com mais frequência das videoconferências de trabalho do grupo Algar.

3 – Rogério Nery – Quando a pandemia começou, havia um ponto de interrogação sobre como as políticas de isolamento social poderiam impactar na produtividade do trabalho. No seu entendimento, a Algar conseguiu se adaptar e esse momento? Das tecnologias adotadas, qual teve a maior importância nesta fase? E qual, na sua visão, que mudança serão repensadas pela companhia no chamado “novo normal”? O que veio para ficar?

Luiz Alberto Garcia – Foi um enorme desafio deslocar, da noite para o dia, milhares de postos de trabalho dos “Call Centers” com sucesso absoluto para o trabalho em casa. Consideramos estar perfeitamente adaptados ao home office. A Algar Telecom, em uma semana, colocou toda sua equipe em trabalhando de casa. E isso foi essencial para garantirmos o bem-estar do cliente e do nosso associado. Indiscutivelmente, nada poderia ser feito sem telecomunicações confiáveis e de alto padrão. Neste momento tão desafiador, a conexão se mostrou essencial para garantir a entrega, o relacionamento entre as pessoas, o bem-estar e entretenimento. Um exemplo: nossos conselheiros possuem residência em diversas cidades do País e não mais se deslocam para Uberlândia ou São Paulo, onde eram feitas as reuniões. Agora, todas são feitas a distância e, por incrível que pareça, com mais aproveitamento que presencial. O que estamos vendo hoje nunca foi imaginado antes. Vai ficar a imagem do quanto somos vulneráveis e precisamos ter transparência e empatia.

4 – Rogério Nery – Na sua opinião, quais as lições que o Brasil irá tirar desse momento?

Luiz Alberto Garcia – A lição geral é que se o Estado pode, por meio de solidariedade social e esforço coletivo, mobilizar recursos para vencer o vírus, também pode garantir plenamente os direitos humanos, vencer mazelas sociais como a miséria, a falta de moradia, o desemprego e desafios ambientais, entre outros.

5 – Rogério Nery – A pandemia concentrou as atenções da agenda nacional. Sem perder a atenção aos cuidados prioritários à saúde e economia nesses tempos de Covid-19, o que os brasileiros não podem perder de vista a longo prazo?

Luiz Alberto Garcia – Que somos um País continental, com recursos naturais invejáveis, clima propício para todo tipo de agricultura. A natureza foi muito generosa conosco. Agora, temos que fazer a nossa parte: estudar, trabalhar e ser brasileiro em toda extensão da palavra.

6 – Rogério Nery – Como um dos maiores empresários do País, como vê a participação de lideranças empresariais no cenário político? O que elas têm a ensinar e o que elas têm a aprender?

Luiz Alberto Garcia – De uma forma em geral, o empresário não tem “apetite” para política. Lógico que tem exceção e o governador [Romeu] Zema é uma delas. Vejo com bons olhos a coragem de empresários entrando na política. Os empresários sabem administrar e bem seus empreendimentos – se assim não o fizerem vão à falência. O mesmo acontece na coisa pública. O aprendizado é que política é uma “profissão” como qualquer outra, mas é para quem tem vocação e é de longo prazo.

7 – Rogério Nery – A Algar é uma empresa que se consolidou na área de tecnologia enquanto Minas é conhecida pelas commodities agrícolas, minerais e metálicas. Se o Estado de Minas pudesse buscar na Algar algum bom exemplo de como agregar valor ao negócio, qual referência seria a mais útil?

Luiz Alberto Garcia – Indiscutivelmente, o Brain, centro de inovação tecnológica criado pela Algar Telecom, onde está concentrado grande parte de inovação e Inteligência do grupo Algar. Seria uma referência. Ali aprendemos a raciocinar “fora da caixa”, procurar parcerias com quem tem competência onde não temos. Enfim, trabalhar junto com os clientes, aprender com os erros e ser rápido para corrigir.

8 – Rogério Nery – A Algar é conhecida como uma das melhores empresas para se trabalhar no País Nesse período de pandemia, em que boa parte da força do trabalho precisou ficar em casa, que diferenciais a companhia buscou para manter essa excelência na gestão e desenvolvimento de pessoas?

Luiz Alberto Garcia – Estamos muito próximos de nossos associados por meio de videoconferência, dando oportunidades de manifestações ao vivo ou escrito (no chat). Nossas reuniões presenciais, além de onerosas, não tinham o público de hoje, que, no meu cálculo, chega a ser 10 vezes maior. Estamos constantemente medindo o grau de “encantamento” de nossos clientes e associados.

9 – Rogério Nery – Boa parte da gênese das empresas brasileiras está em iniciativas familiares – caso da Algar. A partir de sua experiência, quais seriam as recomendações que o senhor daria para que a gestão desses negócios possa ficar imune a eventuais idiossincrasias inerentes a relações familiares?

Luiz Alberto Garcia – No caso do grupo Algar, o Conselho de Família está sendo preponderante no alinhamento dos familiares acionistas. Recentemente, fizemos revisão de nosso estatuto familiar comandado pelos jovens da 4ª e 5ª gerações. E eles apertaram ainda mais condições de entrada para trabalharem no grupo Algar.

10 – Rogério Nery – O que o Brasil pode esperar da adoção do 5G nas telecomunicações? Quais os desafios?

Luiz Alberto Garcia – Uma tecnologia de ponta e que vai deixar para trás as outras existentes. Se lembram do analógico, 1G, 2G, já o 3G foi um salto para o digital que deflagrou uma avalanche de start ups no setor; seguido do 4G e do LTE (4,5G). Me encanta ver pela primeira vez um produto de tecnologia mundial, sem proprietário, de tecnologia aberta. O 5G pode trabalhar na faixa de 400Mega a 100Giga; o que temos conhecimento é a sua latência (tempo de resposta) bem mais rápida que as anteriores; o que seria importante para implementarmos a automação em diversos setores, inclusive na medicina. Os desafios, como sempre acontece, são os monetários e a escala de implantação. Nos grandes centros, com grande concentração de usuários, teremos que usar frequências mais altas, reduzindo consideravelmente sua área de cobertura, tendo como consequência a necessidade de mais estações. Nada que não possa ser resolvido. É a beleza da coisa!

*Questionário enviado em 29 de junho de 2020 e respondido em 7 de julho de 2020.

 

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