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ROGÉRIO NERY ENTREVISTA: RODRIGO BORGES (CEO DO SOCIAL BANK)

As tecnologias de pagamentos digitais são uma grande aposta para esse novo 
momento, diz Rodrigo Borges, CEO do Social Bank, um dos maiores grupos de
fintechs do Brasil.

Segundo ele, com a necessidade de distanciamento social imposta pela pandemia,
muitos brasileiros despertaram para a necessidade de resolver suas questões
básicas com menos contato.

E a internet e o meio digital, diz o executivo, serão veículos determinantes para o
futuro dos negócios e o futuro do trabalho.

Formado em Administração pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
e pós-graduado em Marketing pela Escola Superior de Marketing e Propaganda
(ESPM), Rodrigo acumula, com apenas 40 anos, uma prodigiosa carreira de 20 anos
em instituições financeiras e em empresas digitais.

Começou sua trajetória no setor varejista. Liderou projetos digitais em gigantes
do setor como o B2W Digital (Submarino e Americanas.com) e ganhou
notoriedade ao criar o marketplace do Magazine Luiza -referência no e-commerce.

Inquieto, ingressou no mercado de pagamentos digitais. Fundou a primeira empresa emissora de cartões não financeira (NFI) junto à Mastercard, a Vale Presente, 100% focada em gift cards.

Fundador do Social Bank, que compreende também a Hub Prepaid, com cerca de R$ 10 bilhões em transações anuais, mais de 5 milhões de cartões emitidos e 1,5 milhão de contas digitais, o mineiro de Uberlândia é sócio do bilionário Carlos Wizard. Juntos, investiram cerca de R$ 150 milhões em projetos como a Hub Prepaid e o Social Bank.

“Ao longo da última década, Rodrigo colocou sua expertise a serviço de projetos estratégicos e de alta complexidade para parceiros como Caixa, Itaú, BR Distribuidora, 99, Uber, Mercado Pago e a já citada Magazine Luiza”, diz o superintendente da rede Integração, Rogério Nery de Siqueira Silva.

“Ele é um dos expoentes de uma geração que colocou Uberlândia no mapa nacional das start ups brasileiras. Fico feliz em ter a sua amizade e em trocar ideias com alguém inovador e com alta capacidade empreendedora”, diz Rogério Nery.

Nessa entrevista, Rodrigo explica a proposta do Social Bank, que permite a viabilização de projetos como a Cesta Básica Digital e a troca de serviços entre pessoas.

Ele afirma, ainda, que o Brasil tem um dos sistemas de pagamentos mais avançados em termos regulatórios do mundo e que a tentativa de entrada de grandes players, como o Facebook Group, deve ser vista como uma oportunidade para massificar os pagamentos digitais.

“Acredito que quanto mais pessoas conhecendo e utilizando o serviço, mais aumentará o conhecimento do produto e da tecnologia, já que temos um processo regulatório que garante a segurança das operações e dos participantes do sistema de pagamentos brasileiro.”

Leia a íntegra da entrevista.

1 – Rogério Nery – Muitos avaliam que a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) irá provocar transformações definitivas na relação das pessoas com a tecnologia, principalmente na forma de trabalhar e de consumir (via aplicativos de reuniões remotas e uso crescente do e-commerce). Você concorda? Quais mudanças serão duradouras? Que outras poderia mencionar?

Rodrigo Borges – Com certeza. Essas mudanças são definitivas e irão impactar profundamente a forma com que as pessoas consomem e se relacionam. As mudanças irão impactar também os negócios e o próprio trabalho. Cada vez mais pessoas, por iniciativa pessoal ou por necessidade, passarão a trabalhar por conta própria, a partir de suas habilidades pessoais, ou seja, aquilo que sabem fazer. Portanto, a internet e o meio digital serão veículos determinantes para o futuro dos negócios e o futuro do trabalho. Outra tendência que vejo são os pagamentos digitais contactless, isto é, sem contato. Na China, os pagamentos contactless já são uma realidade do dia a dia. Agora, com os novos comportamentos sociais no Brasil e no mundo, as pessoas vão buscar resolver suas questões com menos contato. Portanto, as tecnologias de pagamentos digitais e contactless são uma grande aposta.

2 – Rogério Nery – Ao longo desse período de distanciamento social, o que, pessoalmente, mais vem lhe fazendo falta? E o que tem feito para se cuidar no plano emocional?

Rodrigo Borges – Acredito que o que mais sentimos falta é o contato com outras pessoas, principalmente família e amigos, pessoas que a gente gosta. Nesse momento percebemos o quanto é importante a relação pessoal, o olho no olho, o estar junto. Por outro lado, o distanciamento e o isolamento social nos fazem olhar para dentro. E, quando olhamos para dentro, enxergamos o outro, pois, em um nível mais profundo, somos todos um. Isso nos faz aflorar um sentimento de empatia muito forte, trazendo tristeza e preocupação pelas famílias mais vulneráveis que estão passando sérias dificuldades. Por isso, sentimos vontade de ajudar outras pessoas para que possam passar por esse momento com um pouco mais de alívio e isso nos mostra o valor de se viver em comunidade, de se compartilhar os recursos. Em nível emocional, o que tenho feito para me cuidar é me refugiar em casa de campo. É um ambiente mais calmo, em meio à natureza, onde posso me desligar dos problemas do dia a dia e me alicerçar na religião e praticar minha fé.

3 – Rogério Nery – Há um debate crescente na sociedade brasileira sobre o modelo de instituições de serviços financeiros – a dos bancos tradicionais e a dos bancos com novos perfis. Como você vê essa questão? Essa dicotomia existe de fato? Há uma tendência de transformação?

Rodrigo Borges – Sim e não. De fato, as principais instituições financeiras por muitos anos e ainda hoje se preocupam prioritariamente em remunerar seu capital, acima do interesse das pessoas e da sociedade. Não vejo dicotomia, pois pouquíssimas empresas estão verdadeiramente comprometidas em realizar uma mudança no modelo financeiro do País, principalmente porque vivemos em um dos países com maior concentração bancária do mundo, o que torna o desafio ainda maior pra quem se propõe a fazer as coisas de um jeito diferente, mais inclusivo, com menor custo e mais transparente para o consumidor final. A tendência de transformação existe, muito mais por conta das pessoas do que pelas empresas, pois cada vez mais a população está se tornando mais consciente de seu papel, exigindo mais transparência e responsabilidade das empresas. Então, o mercado precisa se adaptar para um novo momento da economia, de empresas mais responsáveis e regenerativas.

4 – Rogério Nery – O que as fintechs trazem de novo para uma população que ainda não tem uma educação digital das mais avançadas?

Rodrigo Borges – As fintechs trazem a possibilidade de as pessoas terem acesso a serviços financeiros de forma menos burocrática e com menor custo. Por outro lado, uma vez que a maioria dos serviços esteja sendo oferecido por meios digitais, é necessário que a população tenha acesso a smartphones conectados à internet, o que tem crescido aceleradamente com a pandemia. Ainda que exista uma parcela da população que não tenha acesso a estas tecnologias, penso que o avanço das fintechs ajudará na inclusão financeira e digital das populações mais vulneráveis, uma vez que no Brasil cerca de 45 milhões de pessoas não tem conta em banco, ou seja, 20% da população não tem acesso ao sistema financeiro, cenário que está sendo mudado por fintechs e banco digitais como o Social Bank.

5 – Rogério Nery – O Social Bank surgiu com o propósito da desintermediação financeira ressignificar os valores da sociedade. O que isso significa na prática? Quais os benefícios desse modelo?

Rodrigo Borges – Ressignificar valores da sociedade significa dar novos significados para valores que vão além do dinheiro. Valores como as trocas, as habilidades, o tempo e o próprio trabalho. O que queremos dizer é que na nossa forma de fazer negócios, desenvolver produtos e relações de trabalho, estamos sempre buscando dar novos significados para conceitos antigos, estabelecidos em outros momentos da sociedade. É ir além da inovação como um fim em si mesmo, mas questionar a forma como as coisas são feitas, pois se o mundo mudou e deparamos diariamente com novos desafios, não faz sentido tentar resolver problemas novos com soluções antigas. Portanto, ressignificar valores da sociedade, é pensar sobre nosso papel e nosso propósito enquanto líderes, enquanto organização e enquanto pessoas, agindo sempre de forma mais inclusiva, colaborativa e criativa.

6 – Rogério Nery – Como funciona a cesta social digital? Qual é a vantagem desse produto, sobretudo nesse momento de pandemia?

Rodrigo Borges – A Cesta Social Digital é a versão moderna da cesta básica. Enquanto na cesta básica física a família que recebe está limitada a um mix de produtos extremamente restrito, na Cesta Social Digital, a família beneficiária recebe um cartão com saldo disponível para a realização de compras de itens de primeira necessidade em diversos estabelecimentos que melhor lhe atendem. A principal vantagem da cesta em cartão é a autonomia para sanar as demandas imediatas da família com dignidade, além da inclusão destas pessoas no Sistema de Pagamentos Brasileiro, por meio de um cartão de crédito à vista com bandeira Mastercard e uma conta digital. Outra vantagem é a geração de inteligência de dados destas populações vulneráveis. A partir do histórico de comportamento de compras dos beneficiários da Cesta Social Digital, por exemplo, é possível direcionar de forma mais eficaz os investimentos sociais, políticas públicas e estratégias para o desenvolvimento de comunidades. Esta foi a forma que encontramos para colocar nossa estrutura e tecnologia a serviço das camadas mais carentes da população, que são as mais afetadas neste momento.

7 – Rogério Nery – Você acredita que talento e conhecimento também são moedas. De que modo o Social Bank promove a troca dessa mercadoria?

Rodrigo Borges – Com certeza, talento e conhecimento podem ser moedas de troca. Não só isso, como também habilidades e o próprio tempo que alguma pessoa tem disponível. Acreditamos nisso porque as moedas existem como parâmetros para simbolizar valores de trocas. Se você tem o que eu preciso e eu tenho algo que você precisa, por que não podemos trocar diretamente entre nós? O que aconteceu foi que as pessoas perderam a confiança umas nas outras e foi preciso criar mecanismos para tangibilizar as trocas, como o dinheiro, por exemplo. Acontece que, agora, a tecnologia nos dá a oportunidade de nos conectarmos diretamente a outras pessoas, para compartilhar recursos como o transporte, hospedagem, cursos etc. Mas o que faltava para tornar essas trocas ainda mais presentes no dia a dia era a confiança. O que estamos resgatando no Social Bank é exatamente isso: criar ecossistemas e possibilitar que pessoas que já fazem parte de algum tipo de comunidade como uma empresa, um grupo, uma associação, um bairro ou qualquer tipo de organização que já compartilha recursos, possa utilizar como moeda de troca, valores como o conhecimento, as habilidades e o seu próprio tempo.

8 – Rogério Nery – Em sua sede de Uberlândia, o Social Bank possui espaço de coworking e cafeteria anexa. A ideia era replicar esse modelo de Banco & Cafeteria para diversas outras cidades. De que modo a pandemia afetou esses planos e quais soluções vêm sendo imaginadas para superar os desafios impostos pelas circunstâncias?

Rodrigo Borges – A proposta de ter espaços de relacionamento com cafeteria e coworking, ao contrário das tradicionais agências, veio para complementar a visão de ecossistemas financeiros colaborativos que o Social Bank traz, uma vez que estes ambientes proporcionam oportunidades de trocas e realização de negócios, desenvolvendo redes de colaboração dentro de nossa comunidade de clientes e parceiros. A pandemia veio para nos mostrar o quão essa estratégia é relevante e alinhada com o futuro do mercado, já que construiremos espaços que são referências para networking e realização de negócios entre pessoas e empresas em diversas cidades, o que faz muito sentido se pensarmos que o mercado de trabalho está se direcionando para uma maior distribuição e mais profissionais e empreendedores oferecendo seus serviços de forma independente.

9 – Rogério Nery – Minas Gerais, pelo próprio nome, é um Estado conhecido mundialmente pelas commodities. Mas o seu exemplo mostra que há muita gente de talento. De que forma, na sua opinião, o capital humano nascido em Minas poderia ser mais bem explorado, inclusive aproveitando as potencialidades naturais aqui existentes? Que referências poderiam servir de exemplo para que replique e Minas exporte inteligência e produtos/serviços de alto valor agregado? O modelo de clusters de inovação seria bem-vindo?

Rodrigo Borges – Minas Gerais é um grande estado, tradicionalmente exportador de riquezas. E nossa região do Triângulo Mineiro, em especial Uberlândia, tem vocação para o protagonismo. O que posso dizer é que aqui temos capital humano de alto valor, com diversas universidades, faculdades de ponta e programas relevantes de pós-graduação, além de grandes empresas de porte nacional e multinacional. O que sinto que falta nesse momento é um engajamento e uma colaboração maior da iniciativa pública, e também da iniciativa privada, no sentido de tornar uma cidade mais inteligente e mais competitiva, a partir da construção de uma imagem e a geração de valor em produtos e mercados que vão além dos tradicionais em que já somos destaque, como o atacado e o agronegócio. Na minha opinião, o que precisamos fazer, agora, é dar luz e trazer à tona esse potencial, que já ficou comprovado em cases de investimentos relevantes em empresas de tecnologia da cidade como a Softbox (Magazine Luiza), a Zup (Itaú) e a Vitta (Stone). Então, o trabalho que precisa ser feito é potencializar esta narrativa, mostrar muita coisa que já está sendo feita, mas que não é divulgada. Outra questão que vejo é que a própria iniciativa privada muitas vezes não prestigia empresas locais, valorizando mais o que vem de fora, quando temos excelentes soluções em nossa região. No nosso caso, por exemplo, a maioria de nossos clientes são de outras regiões do Brasil. Isso acontece também com a iniciativa pública que poderia valorizar e investir mais em tecnologias locais. Acredito que este movimento de valorizar mais o local será importante para mantermos a cidade competitiva, tornando-a relevante em mercados crescentes como a tecnologia e a inovação para não ficarmos dependentes de mercados tradicionais que estão em declínio.

10 – Rogério Nery – No dia 15 de junho, o Facebook anunciou a estreia no Brasil de uma função de transferências e pagamento de compras pelo WhatsApp. Na semana seguinte, o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam o acordo entre WhatsApp, Cielo e instituições financeiras que permitia esses serviços entre usuários do aplicativo. Como você vê a possível entrada de um peso-pesado global da tecnologia nesse mercado? O que representa em termos de oportunidades e ameaças?

Rodrigo Borges – Vejo mais oportunidades do que ameaças, uma vez que nossa estrutura regulatória do País é muito forte, haja visto que o próprio Facebook não conseguiu estabelecer sua solução por aqui. Nesse sentido, considerando que temos no Brasil um dos sistemas de pagamentos mais avançados em termos regulatórios do mundo, com a Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), por exemplo, vejo a entrada de grandes players como uma oportunidade para massificar os pagamentos digitais, que é uma das tecnologias que a gente atua aqui no Social Bank. Dessa forma, acredito que quanto mais pessoas conhecendo e utilizando o serviço, mais aumentará o conhecimento do produto e da tecnologia, já que temos um processo regulatório que garante a segurança das operações e dos participantes do sistema de pagamentos brasileiro, como ficou comprovado agora com a divulgação do PIX – o sistema de pagamentos e transferências instantâneas apresentado pelo Banco Central. Portanto, tendo um sistema financeiro tecnicamente forte e bem regulado, as empresas se sentem mais seguras, podendo enxergar esse movimento como uma oportunidade de democratizar o acesso, popularizar a tecnologia e diversificar o mercado.

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