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ROGÉRIO NERY ENTREVISTA ROMEU ZEMA

A pandemia vem afetando o Brasil e o mundo — e o Estado de Minas não passou ileso. De acordo
com o governador Romeu Zema, o trabalho de planejamento para enfrentar a doença e equipar
os hospitais vem sendo essencial para que Minas seja o estado com a menor taxa de mortalidade
a cada 100 mil habitantes no país.

 

Romeu Zema: “Trabalhamos para que Minas seja o Estado mais competitivo do Brasil. Revogamos quase 140 normas que só atrapalhavam a vida de quem quer investir.” Foto: Assessoria de Comunicação do Governo do Estado de Minas Gerais.

 

“Desde o início da pandemia até agora, ampliamos em 92%
o número de leitos de UTI no Estado. Saímos de 2.072 em
fevereiro para quase 4 mil em outubro. Mesmo assim, mais
de 8 mil mineiros perderam a luta para o Coronavírus, o
que é lamentável”,

diz Zema em entrevista exclusiva para este blog.

Além do impacto social, há ainda o abalo econômico. Mas o estado vem reagindo, explica o
governador, com um plano que inclui um pacote de obras públicas totalizando R$ 1 bilhão.

“Trabalhamos para que Minas seja o Estado mais competitivo do Brasil.
Competitividade está diretamente ligada à desburocratização. Queremos
que as empresas invistam em Minas, comprem produtos de Minas, se instalem aqui.”

Natural de Araxá, no Triângulo Mineiro, Zema surpreendeu o Brasil ao vencer o segundo turno
das eleições de 2018 com uma margem expressiva, com 71,80% dos votos válidos, numa corrida
em que, na análise de muitos, começou como um mero azarão.

Empresário de sucesso, Zema iniciou sua trajetória profissional bem cedo, aos 11 anos. Ao longo
de sua carreira, atuou em diversas funções, como cobrador, frentista, balconista, estoquista, caixa,
comprador, vendedor, analista de marketing, analista comercial e gerente.

Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP), assumiu em 1991 o controle das Lojas Zema e liderou o salto que fez a rede mineira varejista de apenas quatro unidades a atingir a marca de 430 lojas, incluindo os Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Espírito Santo.

Hoje, além de governador, é membro do Conselho do Grupo Zema, composto por empresas que operam em cinco ramos: varejo de eletrodomésticos e móveis, distribuição de combustível, concessionárias de veículos, serviços financeiros e autopeças. O Grupo gera 5.000 empregados diretos e aproximadamente 1.500 indiretos.

Conheço Zema há bastante tempo, da época em que, ainda muito novo, ingressou nas empresas da família e logo se destaco. Eu o tenho como amigo e o respeito pela carreira, entusiasmo, liderança e tranquilidade que passa a todos os mineiros. Ele é preocupado com pessoas, disciplinado, determinado e focado em resultados. Todas essas características o levaram – logo em sua primeira incursão no cenário político – a se tornar governador, representando o interior e a nossa querida Araxá. Estou certo de que, se tiver um grande sonho, será capaz de realizar.

 

essa entrevista exclusiva, o governador fala sobre diversos temas: volta às aulas, reforma da Previdência, privatização da Cemig e desburocratização.

Veja como foi.

1 – Rogério Nery Siqueira Silva – Governador, já são sete meses desde que a OMS declarou a Covid-19 como uma pandemia. Que análise o senhor faz do impacto da pandemia no Estado de Minas Gerais?

Romeu Zema – O pior dessa pandemia com certeza são as vidas perdidas, famílias inteiras que choram por seus entes queridos. No Brasil, já superamos a triste marca de 150 mil mortes pela Covid-19. Graças ao nosso trabalho de planejamento para enfrentar a doença e equipar os hospitais, Minas é o estado com a menor taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes no país. Desde o início da pandemia até agora, ampliamos em 92% o número de leitos de UTI no Estado. Saímos de 2.072 em fevereiro para quase 4 mil em outubro. Mesmo assim, mais de 8 mil mineiros perderam a luta para o Coronavírus, o que é lamentável.

Além dessa dor irreparável, sofremos impactos econômicos. Mas arregaçamos as mangas e com criatividade e eficiência montamos o Avança Minas, que vai alavancar a geração de postos de trabalho.

O Avança Minas apresenta uma série de medidas de desburocratização para melhorar o ambiente de negócios no Estado e engloba ainda um pacote de obras públicas que somam R$ 1 bilhão, nas áreas da saúde, educação, segurança e infraestrutura rodoviária e urbana. A estimativa é a de que as obras gerem 35 mil empregos diretos e indiretos, contribuindo com mais de R$ 3 bilhões para o PIB dos municípios. Temos que levar esperança e perspectiva para os mineiros.

2 – Rogério Nery Siqueira Silva – Enquanto não surgir uma vacina, o que o Estado e os mineiros ainda podem fazer para melhorar o quadro sanitário? Há preocupação com uma segunda onda, como acontece na Europa?

Romeu Zema – Minas Gerais também é o estado com menor número de mortes por milhão de habitantes. Isso demonstra que as ações do Governo foram efetivas e que a população seguiu as recomendações de prevenção à Covid-19. Para manter a pandemia sob controle e, gradativamente, diminuir a taxa de transmissão, é importante que os mineiros mantenham os cuidados. As medidas sanitárias de distanciamento social, higienização correta das mãos, utilização de álcool em gel, o uso de máscaras, o não compartilhamento de objetos, dentre outros cuidados, são fundamentais para garantir que não ocorra um aumento no número de casos.

Além disso, avaliamos constantemente os indicadores indispensáveis ao controle da Covid-19 no estado e ressaltamos a necessidade de manutenção rigorosa dos protocolos desenvolvidos pelo plano Minas Consciente para as atividades econômicas e sociais, a partir das orientações técnicas da Secretaria de Estado de Saúde, para que não haja crescimento de casos ou retrocessos nos resultados obtidos até o momento, uma vez que ainda não há vacina.

O monitoramento de indicadores como número de casos e taxa de ocupação de leitos da rede pública em todas as macrorregionais do estado é diário, para que, ao primeiro sinal de aumento de transmissão, as medidas de contenção do vírus sejam tomadas.

3 – Rogério Nery Siqueira Silva – Uma das questões mais debatidas, em todo o país, no momento, é a volta ou não às aulas presenciais nas escolas. De que modo o senhor vê essa questão e de que modo esse debate deve ser feito para que se concilie os aspectos educacional e sanitário?

Romeu Zema – A decisão de autorizar o retorno gradual às atividades presenciais nas escolas foi tomada após ampla avaliação, com as secretarias de Educação e de Saúde, do cenário epidemiológico. Monitoramos a situação da Covid-19 diariamente e aguardamos o momento mais seguro.

Além disso, elaboramos um protocolo sanitário cuidadosamente, com regras rígidas, que deverão ser seguidas pelas instituições de ensino. Mas, vale lembrar, as escolas públicas ou privadas poderão retomar ao regime presencial somente se as regiões estiverem na onda verde do plano Minas Consciente. O retorno na onda amarela é considerado apenas para as instituições de nível superior. Ainda assim, nós preservamos a autonomia dos municípios. É da prefeitura a decisão final.

E no caso das escolas estaduais, a família que optar por manter os filhos em casa terá a garantia da continuidade do regime remoto, que já é ofertado pela Secretaria de Educação.

4 – Rogério Nery Siqueira Silva – Quais são as ações concretas que Minas Gerais pode adotar para preparar um ciclo de recuperação e retomada econômica sustentável ao longo desta década?

Romeu Zema – Desde que a pandemia teve início, sabíamos que o impacto na economia, na renda e no emprego das pessoas seria devastador. Por isso, há alguns meses, montamos grupos de trabalho com o foco em ações que possibilitassem a retomada do desenvolvimento econômico.

Além do Avança Minas, plano que inclui um pacote de obras públicas que somam R$ 1 bilhão, trabalhamos para que Minas seja o Estado mais competitivo do Brasil. Competitividade está diretamente ligada à desburocratização. Queremos que as empresas invistam em Minas, comprem produtos de Minas, se instalem aqui. Mas, para que isso aconteça, o poder público tem de fazer o seu dever de casa. Por isso, revogamos quase 140 normas que só atrapalhavam a vida de quem quer investir. São decretos e outras ações que impediam o desenvolvimento econômico. Esse “revogaço” aumentará a competitividade do nosso Estado.

Também dispensamos alvarás de funcionamento de mais de 640 atividades econômicas consideradas de baixo risco. Isso permitirá ao empreendedor ter agilidade e menor custo para abrir o seu negócio. Também apostamos nas reformas, como a da Previdência, recentemente aprovada na Assembleia Legislativa, para tornar o estado mais sustentável a longo prazo.

5 – Rogério Nery Siqueira Silva – O senhor sancionou a Lei Complementar (LC) 156, que altera o sistema de Previdência Social dos servidores públicos civis do estado. Qual é a importância dessa reforma para a saúde das finanças do Estado? E qual o significado no dia a dia da população?

Romeu Zema – É importante lembramos que a Reforma da Previdência segue um movimento mundial e necessário para garantir a sustentabilidade para as aposentadorias. Sabemos que a tendência é que a expectativa de vida da população aumente cada vez mais, o que, para nós, é motivo de muita alegria. O crescimento da longevidade é uma razão para assegurarmos um sistema previdenciário que tenha plenas condições de arcar com o pagamento de aposentarias e pensões em dia. E isso começa a ser feito com a Reforma da Previdência. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, o déficit previdenciário acumulado nos últimos oito anos em Minas Gerais já chega a R$ 130 bilhões. Então eu digo com toda certeza que essa reforma não é para o meu governo, mas para futuras gerações.

6 – Rogério Nery Siqueira Silva – Em uma passagem recente por Uberlândia, o senhor voltou a defender uma proposta de campanha: a privatização da Cemig. Em um horizonte até 2030, quais seriam os benefícios de a Companhia de Energia de Minas ser assumida agora por uma gestão privada?

Romeu Zema – O Governo de Minas Gerais criou, em novembro do ano passado, por meio do Decreto 47.766, a Política Estadual de Desestatização.

O objetivo é facilitar o processo de privatização das estatais, tornando algumas dessas empresas mais eficientes para a população mineira. No caso da Cemig, a companhia energética soma dívida superior a R$ 12 bilhões e requer investimentos obrigatórios de R$ 6 bilhões apenas na rede de transmissão até 2030. Nesse cenário, diante da difícil situação fiscal do estado, agravada ainda mais pela pandemia, a privatização da Cemig é um projeto para tornar a empresa mais competitiva, além de alavancar investimentos que o estado não tem condições de realizar neste momento e, consequentemente, contribuir para a redução das tarifas para o consumidor, ofertando energia mais barata e de melhor qualidade.

7 – Rogério Nery Siqueira Silva – Minas é conhecida pelas commodities agrícolas, minerais e metálicas. De que modo, a longo prazo, o Estado pode gerar mais valor agregado com esses ativos? O que o governo do Estado vem fazendo nessa direção?

Romeu Zema – Nosso governo tem buscado agregar valor ao que é produzido no campo. Uma das maneiras de fazer isso é investir na indicação geográfica, fazendo com que por meio de certificações e acordos internacionais o queijo mineiro, por exemplo, chegue a outros mercados.

Estamos trabalhando ativamente para que nossos produtores consigam exportar essas iguarias típicas. O mel produzido aqui também tem ganhado interesse cada vez maior do Japão e China. Com relação à mineração, temos atuado para diversificar a economia em municípios mineradores.

Vale ressaltar que, mesmo em meio à crise mundial causada pela pandemia, Minas Gerais registrou aumento de investimentos no primeiro semestre deste ano. Os aportes chegam a R$ 9,7 bilhões, mais que o dobro do valor registrado no mesmo período de 2019. Isso mostra nosso esforço para desburocratizar e ampliar as oportunidades de negócios.

8 – Rogério Nery Siqueira Silva – As eleições municipais estão chegando. Independentemente de preferências político-partidárias, na sua avaliação, qual deveria ser o perfil ideal das lideranças políticas que serão eleitas? E quais os critérios que a população mineira deve considerar ao escolher seus candidatos a prefeito e vereadores?

Romeu Zema – Os municípios brasileiros precisam, com urgência, de lideranças que pensem de verdade no bem-estar da população. É fundamental uma agenda de austeridade fiscal, de eliminação de cabides de emprego, de comprometimento com o dinheiro público. É isso o que estamos fazendo no Governo de Minas Gerais.

9 – Rogério Nery Siqueira Silva – O senhor tem origem no ambiente empresarial. Como vê a participação de lideranças empresariais no cenário político? E que experiências e características elas podem somar na qualificação dos governos?

Romeu Zema – Com vasta experiência como gestor de empresa privada, sei que bons profissionais fazem toda a diferença. Por isso, implementamos, logo no início da minha gestão, o Transforma Minas, um programa para contratação de pessoas capacitadas. É o que chamamos de meritocracia. Todo o meu secretariado é altamente técnico e qualificado. Outra coisa pela qual sempre zelamos em uma empresa é a questão da ética e da transparência. Isso na política é até mais importante, pois se cometemos algum erro na iniciativa privada, os donos pagam o preço. Mas quando é na esfera pública, quem está pagando a conta é o povo, o contribuinte. Por isso é preciso ainda mais cuidado e austeridade no setor público.

10 – Rogério Nery Siqueira Silva – Minas é o estado brasileiro que possui mais municípios, com 853, com realidades distintas. Na sua visão, qual seria a reforma política necessária, em nível nacional, para que a população possa ser mais atendida em seus anseios e necessidades?

Romeu Zema – Acredito que seja fundamental nos aproximarmos cada vez mais da realidade de cada município, dos pequenos e dos de maior porte. Somente assim, vamos conseguir entender e atender as demandas e as necessidades da população, entregando um serviço cada vez mais respeitoso e eficiente. É necessário que essa aproximação com as cidades ocorra, visando benefícios ao povo, que é quem paga os impostos. A reforma política também tem que buscar melhorar a representatividade.

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