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ROGÉRIO NERY ENTREVISTA: SENADOR ANTONIO ANASTASIA

 

Nascido em Belo Horizonte, o senador Antonio Anastasia (PSD- MG) acumula uma
carreira relevante para um político ainda jovem, de apenas 59 anos.

Anastasia assumiu seu mandato em 2015. Mas vinha de uma experiência
administrativa bastante rica no Governo de Minas, primeiramente como secretário
de Planejamento e Gestão de 2003 a 2006, depois como vice-governador de 2007
a 2010 e, por fim, na cadeira principal da Cidade Administrativa Presidente
Tancredo Neves (CAMG): governador de 2010 a 2014.

Nesse período, ficou conhecido por liderar o chamado Choque de Gestão,
conjunto de medidas que contribuiu para dar mais eficiência aos serviços públicos
no Estado e abrir espaço para aporte de recursos em infraestrutura, cultura, saúde
e na recuperação da rede de ensino estadual, além de obras em centenas de
municípios.

No Senado Federal, Anastasia tem sido um ator destacado no debate de todos os
temas políticos e econômicos – notadamente em projetos para melhorar a
competitividade e atrair investimentos para o País e para Minas Gerais.

Para conversar com o senador sobre o momento nacional, o CEO da rede
Integração, Rogério Nery de Siqueira Silva, fez um convite: uma entrevista exclusiva
por e-mail, com 10 perguntas.

Nas respostas, Anastasia fala sobre temas como os efeitos da pandemia de Covid-19 e como ele pessoalmente vem se adaptando a esse período.

Também aborda as turbulências políticas nacionais e comenta temas de interesse de Minas Gerais como a reforma da previdência estadual, a recente certificação de Confins como o primeiro aeroporto industrial e políticas de desenvolvimento econômico para aumentar o valor das commodities mineiras.

Por  fim,  o  senador  fala  sobre  um  assunto  que  domina  o  mundo:  as  fake  news.

“Precisamos, de  fato,  de um  marco regulatório  que chame os grandes provedores  ao
debate e que responsabilize os produtores de fake news. Porque não se trata nesse caso de liberdade de expressão, mas de gente que ganha dinheiro e coloca em risco a democracia e a economia utilizando-se da boa-fé da maioria da nossa população. Muita gente não sabe, mas isso virou uma verdadeira indústria do mal”

Veja como foi a entrevista:

 

1 – Rogério Nery – Na sua avaliação, qual o impacto da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) na sociedade brasileira? Como o senhor vê a saída do País deste processo? Sairemos melhores?

Antonio Anastasia – Você já começa com uma pergunta difícil, caro Rogério. Primeiro porque, do ponto de vista social – isso não ocorre só no Brasil – o que vemos é que nos tornamos muito egoístas. Parece, infelizmente, que a sociedade deixou de enxergar o outro como ser humano e como alguém que merece também se desenvolver enquanto pessoa, em todas as áreas. Outro dia eu vi uma análise, muito interessante, demonstrando que, na verdade, essa pandemia apenas externalizou aquilo que já estávamos vivendo, cada um trancado no seu canto, preocupado apenas consigo mesmo. Nesse período de recolhimento, muita gente se sente no direito de sair de casa, de não colaborar para o isolamento social, para o controle da pandemia, mas critica e aponta o dedo para o outro que está fazendo o mesmo. É como se a pessoa pensasse que o mundo inteiro precisa fazer a sua parte, menos ela mesma. “Todos precisam ficar em casa, mas eu posso fazer uma festa. Todos precisam a usar a máscara, mas eu posso ficar sem”. É um imenso contrassenso, mas é o que estamos vivendo, fruto desse egoísmo exacerbado. Ninguém mais parece preocupado em desenvolver a sociedade como um todo, mas apenas a si. Isso é muito negativo. Esse egoísmo leva também a uma espécie de narcisismo. É o que vemos nas redes sociais a todo momento. Então todos se acham capazes de compreender tudo e de ter a solução para tudo. Aquele que nunca entendeu de medicina se acha capaz de receitar cloroquina; aquele que nunca estudou Direito sabe opinar como o mais preparado dos juristas se a prisão em segunda instância é boa ou ruim; aquele que nunca se envolveu com política, tem certeza absoluta que todos na política são ruins; aquele que nunca estudou História, assegura que a ditadura é o melhor regime… Isso gera reflexos também na política. Como todo mundo acha que é o dono da razão, perde-se a capacidade de dialogar, o que é o pressuposto fundamental na política e em uma democracia. Para que debater com o outro, ouvir o outro, se se tem já a certeza absoluta daquilo que ‘tem que ser’? Tem que ser assim e pronto. Para que ouvir o outro lado? E, a partir disso, vamos entendendo por que o grupo que se elegeu nas últimas eleições nacionais vai se desfazendo e brigando entre eles mesmos. Porque foi exatamente com esse discurso de ódio e de embate que foi eleito. E para manter sua narrativa, ele não pode fazer política – com o bom debate de ideias e com a convergência para o bem comum. Ele precisa continuar brigando. Isso não leva a nada a não ser a mais conflitos e a mais caos. Enquanto isso, a sociedade sofre. Pareço muito pessimista, mas essa é a realidade que eu tenho visto. Pode ser que essa pandemia sirva como um ponto de reflexão e de inflexão. Mas, digo isso com tristeza, não considero que sairemos melhores dela. Do ponto de vista econômico, sairemos mais pobres e com grandes desafios a serem superados, maiores do que o que tínhamos anteriormente. Ninguém poderá fechar os olhos para a quantidade de desalentados, pessoas que – já vemos isso nas últimas pesquisas divulgadas – de tanto procurar por emprego e não conseguir, desistiram. Vamos precisar de um plano nacional bem desenvolvido e dos esforços de todos os segmentos para superação desse momento. E, dado o histórico dos últimos anos, não sei se conseguiremos a convergência necessária para sairmos rápido dessa crise, que, economicamente falando, ainda tende a piorar nos próximos meses.

2 – Rogério Nery – Muito se fala que a pandemia irá causas transformações em diversos âmbitos – políticas, econômicas, sociais, culturais, comportamentais. Na sua visão, o que de fato irá mudar no Brasil e no mundo?

Antonio Anastasia – Historicamente as grandes guerras e as grandes crises – como a que temos passado no mundo hoje – são catalisadoras de processos que já estavam em desenvolvimento. E com a crise algumas transformações se aceleram. A questão do trabalho e dos estudos remotos, por meio da internet, acho que vai ser um exemplo marcante disso. Muitas empresas estão, de fato, descobrindo, que o teletrabalho pode, dependendo do setor, inclusive aumentar a produtividade – ao contrário do que muitos imaginavam – e diminuir custos. Isso, no entanto, não nos enganemos, também  vai gerar outros reflexos na nossa vida social e em comunidade porque distancia ainda mais as pessoas fisicamente. Já é uma mudança que assistimos. Do ponto de vista político, acredito que também teremos mudanças. Ficou explícito agora aquilo que eu falava há anos. A nossa administração pública é tão atrasada que o Brasil não conhece sequer os brasileiros. O auxílio emergencial mostrou como o governo não sabe quem são e onde estão os miseráveis e os pobres desse País. E se nem isso sabe, não pode desenvolver políticas públicas para essas pessoas. É por isso que não saímos do lugar nesse sentido. Melhorias pontuais ou de renda podem ter acontecido em determinado momento, mas não resolveram o problema estrutural porque nem sabemos o tamanho desse problema. Eu espero que, enfim, criemos um cadastro nacional confiável e atualizado de assistência social que poderá ajudar em todas as áreas de políticas públicas.  Outro ponto fundamental será a saúde pública de qualidade. Ficou claro, primeiro, que o SUS, como sistema, como concepção e planejamento, é, de fato, exemplo mundial. Mas também ficaram explícitas diversas deficiências. Precisamos preparar esse sistema para novas pandemias. Torcemos que não ocorram, mas precisamos de um sistema que funcione para salvar vidas. Para isso, não basta apenas mais recursos – e eles serão fundamentais, não nos enganemos. Será fundamental, primordial e inadiável voltarmos nosso olhar para a gestão de saúde pública no Brasil. Daí a minha insistência na reforma do Estado, ou reforma administrativa como muitos chamam. Sem ela não vamos sair do lugar.

3 – Rogério Nery – Ao longo desse período de distanciamento social, o que, pessoalmente, mais faz falta ao senhor, Senador? E o que tem feito para se cuidar a nível emocional?

Antonio Anastasia – Essa é uma pergunta interessante. Porque as vezes a gente mergulha tanto nos problemas nacionais e nesses grandes desafios que temos pela frente que acabamos nos esquecendo de pensar também sobre a nossa saúde mental, que é fundamental. Eu sempre fui muito caseiro. Gosto de um bom livro e de um bom filme. Mas nesse período, como todos, sinto falta de um convívio mais próximo com os amigos, em reuniões ou pequenas confraternizações, almoços e jantares que não podemos fazer nesse momento. Também gosto muito de viajar, conhecer lugares e ouvir pessoas, o que, por óbvio, não tenho feito. Resgatei nesse período um hábito que eu havia abandonado que é a prática de exercício físico aeróbico. Dei sorte de antes da pandemia ter adquirido uma esteira e todos os dias de manhã eu tenho me exercitado por uma hora aqui mesmo no apartamento. Isso, junto com os livros e com os filmes, acaba ajudando a manter a mente um pouco mais arejada, digamos assim.

4 – Rogério Nery – Das tecnologias adotadas, qual teve a maior importância nesta fase? E qual, na sua visão, acredita que veio para ficar?

Antonio Anastasia – Eu sempre fui – reconheço – um pouco atrasado em relação às chamadas novas tecnologias. Mas esse período mostrou que elas vieram para ficar e acho que todos tivemos que nos adaptar. Elas podem ser positivas quando nos aproximam virtualmente. Foi o caso, por exemplo, das chamadas webinar e dos encontros e reuniões virtuais. Tenho realizado diversas palestras sem sair de casa. Isso é bom para o debate de ideias e bom para ouvirmos profissionais de diversas áreas de diferentes locais do Brasil e do mundo. E pode colaborar ainda mais para capacitação das pessoas nesse mundo onde a informação é essencial e muda toda hora. Temos de compreender, no entanto, que, apesar de sua expansão, ela ainda não é acessível a todos, o que pode aumentar ainda mais a desigualdade social. Por isso inserir e integrar todos, especialmente os mais pobres, a essa nova realidade também deve ser uma preocupação dos governos.

5- Rogério Nery – Além das crises sanitária e econômica, o País vem observando sucessivos momentos de turbulência política. A que atribui esse quadro? E quais iniciativas poderiam melhorar este ambiente?

Antonio Anastasia – Houve um quadro de radicalização muito grande na política nos últimos anos, por uma série de fatores. Na verdade, isso tem sido observado no mundo inteiro. Por causa também das novas tecnologias as pessoas perderam a confiança no nosso sistema representativo. Mas não só por isso. O que observamos é que os avanços sociais não acompanharam o avanço da tecnologia. E nesse gap há uma espécie de desencantamento. O que precisamos compreender é que não haverá mudanças profundas e significativas enquanto não nos engajarmos e nos mobilizarmos. Não significa apenas cobrar do outro, mas cada um fazer a sua parte. Na política no nosso País nós sempre aguardamos um salvador da pátria, como os portugueses aguardando Dom Sebastião em seu cavalo branco… então parece sempre haver a necessidade de uma figura que é o pai dos pobres, o caçador de marajás, a mãe do PAC, o mito. Isso nunca funcionou. A turbulência política é de certa forma até natural. Mas o Brasil tem exagerado. Temos de garantir sempre o bom embate, próprio da democracia, mas precisamos também de estabilidade para gerar confiança e atrair negócios que funcionem como mola propulsora do desenvolvimento econômico e social do País. Não há outro caminho nesse sentido fora da política, do diálogo e da construção de convergências. Fora disso só há mais caos.

6 – Rogério Nery – Na sua avaliação, há uma sintonia maior entre as lideranças políticas e empresariais? E qual deve ser o perfil das novas lideranças?

Antonio Anastasia – Percebo que está cada vez mais claro para as lideranças políticas e econômicas quais são nossos principais problemas nacionais e quais as formas de resolvê-los. O que falta é um plano nacional – detalhando o papel de cada setor, os objetivos e metas a serem alcançados – e uma liderança forte, responsável, com capacidade de diálogo e de construção de consensos para liderar esse processo de reconstrução que precisará haver. Não podemos mais adiar a reforma administrativa e tributária, por exemplo. Nisso todos concordam. O problema é como fazê-lo, por onde começar, onde cada qual terá de ceder para a construção de algo que será melhor para todos enquanto Nação.

7 – Rogério Nery – Quais ações concretas o Estado de Minas Gerais pode tomar, até o final deste ano, para preparar um ciclo de recuperação e retomada econômica sustentável ao longo desta década? E o que o Senado Federal vem fazendo nesse sentido?

Antonio Anastasia – O governo estadual demorou muito em apresentar uma proposta de reforma da previdência. Ela é fundamental para o Estado e já deveria ter sido apresentada, a meu ver, no início da atual gestão. O governo federal fez sua parte nesse sentido, outros Estados da Federação já realizaram a sua e Minas Gerais – que é um Estado dos mais antigos e, por isso mesmo, com maior pressão no seu sistema previdenciário – está bastante atrasado. Esse será um importante passo para que haja o início da melhoria nas contas públicas estaduais que devolva a confiança perdida de investidores em nosso Estado. Quanto ao Senado Federal, temos feito tudo o que de mais importante nos tem sido demandado. Minas está sendo beneficiada, por exemplo, com R$13 bilhões com a Lei Complementar 173, originada de projeto de minha autoria, que socorreu o Estado e todos os 853 municípios mineiros nesse tempo de queda na arrecadação. Tanto com a suspensão da dívida com a União, que vai dar um fôlego ao Estado de mais de R$7 bilhões; como com recursos diretamente no caixa, R$3 bilhões para o Governo do Estado e outros R$3 bilhões para os municípios. Também já votamos – o que há anos eu insistia – a redução dos juros exorbitantes dessa dívida com a União e o aumento dos chamados royalties da mineração. Nas próximas semanas vamos votar também outra insistência minha desde o primeiro dia de mandato que é o acordo com a União em relação à Lei Kandir. O que não falta é trabalho no Senado e, pouco a pouco, vamos tentando dar as respostas que resolvam estruturalmente os problemas do nosso Estado. Nem sempre é fácil, há diversas incompreensões, mas estamos colhendo resultados importantes, que poderão fazer a diferença para Minas Gerais.

8 – Rogério Nery – O senhor é um dos que celebraram a recente certificação de Confins como o primeiro aeroporto industrial. O que é, basicamente, essa iniciativa e de que modo ele irá contribuir para o desenvolvimento econômico do Estado?

Antonio Anastasia – Eu digo sempre, Rogério, que como Minas Gerais é um Estado mediterrâneo, não possui porto marítimo, nós temos que investir nos nossos aeroportos como âncora do nosso desenvolvimento. Foi o que buscamos fazer com o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, e você acompanhou bem isso. Em 2010, quando assumi o Governo de Minas, coloquei o aeroporto como uma das prioridades. Nós insistimos muito com o Governo Federal para que houvesse logo a sua concessão à iniciativa privada e vemos, hoje, como isso foi positivo. Por causa do nosso trabalho, conseguimos bons operadores interessados no nosso equipamento aeroportuário e atrairmos para Minas uma das melhores operadoras de aeroportos da Europa, a Zürich Airport, hoje integrante do consórcio BH Airport, que administra nosso aeroporto internacional. Antes de eu deixar o Governo, em março de 2014, nós inauguramos as primeiras instalações do aeroporto industrial feito com investimento de cerca de R$40 milhões no planejamento, construção e implementação da infraestrutura do espaço. Infelizmente, o projeto ficou parado durante 4 anos de um governo que não se preocupou com a economia do nosso Estado. E agora, felizmente, o aeroporto industrial começa sua operação. Ele é importantíssimo porque funciona como uma espécie de zona franca. Ao manufaturar seus produtos dentro do aeroporto, as empresas terão os benefícios das isenções fiscais quando exportarem seus produtos acabados. Isso faz com que agreguemos aqui mesmo no Estado valor aos nossos produtos – uma insistência minha de anos – o que vai permitir a geração de mais empregos de qualidade em Minas Gerais.

9 – Rogério Nery – Minas é conhecida pelas commodities agrícolas, minerais e metálicas. De que modo, a longo prazo, o Estado pode gerar mais valor agregado com esses ativos?

Antonio Anastasia – Esse é o nosso desafio permanente. Busquei dar muita atenção a isso enquanto governador, mas sabemos que esse não é um projeto de um governo. Tem que ser a nossa obsessão de Estado. O papel do governo tem que ser o de parceria, oferecer confiança e um bom ambiente de negócios para que as empresas se instalem aqui, dar segurança jurídica. E também correr atrás das empresas mesmo. Atraí-las para cá. Lembro-me que conseguimos expandir nossa fábrica de helicópteros, em Itajubá; atrair empresas de blindados e de maquinaria pesada, inclusive de locomotivas, na região de Sete Lagoas; fábrica de eletrodomésticos; a primeira fábrica da Nestlé de capsulas de café… Quer dizer, nós temos aqui os produtos, temos mão de obra qualificada, temos um ramo logístico ainda carente de infraestrutura, mas com potencial de investimentos e central no Brasil. Precisamos é de mais empresas que transformem esse produto aqui mesmo porque isso significa empregos e geração de renda e de riqueza em nosso Estado. Vamos conseguir isso com planejamento, com visão a longo prazo, como você disse, e com continuidade administrativa. O esforço de um governo isoladamente gera algum resultado. Mas ele pode ser muito maior se esse esforço for permanente e constante. Agregar valor aos nossos produtos têm que ser nosso mantra e objetivo por anos.

10 – Rogério Nery – As novas tecnologias ajudaram a impulsionar as chamadas fake news. O que o Brasil pode fazer para combater a proliferação de notícias falsas? Existe, de fato, uma dicotomia entre fake news e liberdade de expressão?

Antonio Anastasia – Esse é um desafio de todo o mundo e que não é fácil de ser solucionado. Precisamos, de fato, de um marco regulatório que chame os grandes provedores ao debate e que responsabilize os produtores de fake news. Porque não se trata nesse caso de liberdade de expressão, mas de gente que ganha dinheiro e coloca em risco a democracia e a economia utilizando-se da boa-fé da maioria da nossa população. Muita gente não sabe, mas isso virou uma verdadeira indústria do mal. Uma empresa americana descobriu em 2016 que as 20 notícias falsas mais acessadas naquele ano nos Estados Unidos, no contexto das eleições presidenciais, foram mais compartilhadas e lidas do que as 20 notícias reais mais compartilhadas. Um estudo da BBC Brasil mostrou que três dos cinco artigos mais compartilhados do Facebook no país, em abril de 2016, eram fraudulentos. Fake news gera interesse, que gera leitura, que, por sua vez, gera clicks e, consequentemente, lucro. E isso tem que ser combatido. A liberdade de expressão não pode ser absoluta quando gera até a morte. Porque isso acontece, infelizmente. No final de 2018, no interior do México, uma multidão espancou e queimou vivo dois homens depois de informações compartilhadas por aplicativos de mensagens os acusarem de sequestrar uma criança. Depois das mortes, apurou-se que a informação era falsa. Isso pode ser tolerado? De forma nenhuma. Precisa, de fato, haver uma lei no País que garanta a liberdade de expressão, mas que responsabilize quem faz mau uso dela. Um marco regulatório tão somente, no entanto, não resolverá esse desafio. Precisamos melhorar nosso sistema educacional – e isso é um problema estrutural, de longo prazo – para que, com melhor formação e informação, as pessoas possam ter mais discernimento para distinguir uma possível fake news de uma notícia verdadeira, analisando, inclusive, com mais rigor, as fontes dessas informações. Infelizmente agora, com tudo o que recebemos nas redes sociais, o pressuposto deve ser ‘desconfiar’ sempre. É a forma mais segurança de não cairmos nessas armadilhas que todos os dias pipocam em nosso celular.

*Questionário enviado em 28 de junho de 2020 e respondido em 1º de julho de 2020.

 

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