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ROGÉRIO NERY ENTREVISTA: SENADOR CARLOS VIANA (PSD-MG)
Com 57 anos de idade, o senador Carlos Viana (PSD-MG) ganhou notoriedade
no jornalismo. Foram 23 anos de carreira, primeiro como repórter e depois
na função de âncora em televisão e rádio.
Antes mesmo de se formar, Viana começou sua trajetória profissional nos
anos 80, trabalhando para a Lufthansa, onde desenvolvia projetos para divulgar
a Alemanha em Minas Gerais.
Na TV, trabalhou como repórter da Rede Globo Minas e foi apresentador
em diversas emissoras: Rede Minas, TV Globo Minas, TV Globo Bahia, TV Alterosa e
Record Minas. Foi ainda âncora da Rádio Itatiaia.
Passou a ganhar mais visibilidade em 1999, na TV Alterosa, como repórter
e apresentador. Em 2004 foi para os Estados Unidos, onde editava um jornal
distribuído para imigrantes brasileiros, o National Brazilian Newspaper.
Pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing pelo Centro de Pesquisas.
Administrativas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Viana também
foi professor universitário, com passagens por Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC-MG), Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e
Centro Universitário Newton Paiva.
Em 2018, mergulhou na campanha política, saindo da Record TV, onde apresentava o MG Record, e deixando o comando do Plantão da Cidade, na Rádio Itatiaia. Com o apoio do prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, o então candidato conseguiu superar na corrida pelo Senado a ex-presidente da República Dilma Rousseff, tendo sido eleito com mais de 3,5 milhões de votos. Hoje, Viana é presidente do PSD em Minas Gerais. No Senado, também é membro titular da Comissão de Assuntos Econômicos e da Comissão de Serviços de Infraestrutura e suplente nas Comissões de Assuntos Sociais, Educação e Meio Ambiente.
Natural de Braúnas (MG), cidade de 5 mil habitantes no Vale do Aço, o senador comenta nesta entrevista a Rogério Nery de Siqueira Silva, os erros e acertos das autoridades políticas no combate aos efeitos da Covid-19.
Explica ainda os benefícios do novo Marco do Saneamento básico e fala sobre os investimentos em aeroportos de Minas Gerais, bem como a necessidade de atenção a duas regiões menos desenvolvidas do Estado.
“Temos duas regiões em Minas que são a demonstração clara de que nós crescemos, mas deixamos para trás uma parte dos mineiros, que é o Norte e o Jequitinhonha. Eu tenho trabalhado com muita atenção ao Norte, porque são terras planas, irrigáveis e que precisam naturalmente de uma atenção com relação às barragens. E é isso que nós temos trabalhado.”
De acordo com Rogério Nery, o senador é um grande comunicador. “É uma pessoa de grande preparo. A vida lhe ensinou a ter habilidades humanas e técnicas, somadas às suas competências natas. Sabe ouvir a voz dos mineiros e decifrá-las para o mundo legislativo, buscando permanentemente um ambiente mais seguro e estável para nós, brasileiros, e em especial para Minas Gerais. Sou feliz por tê-lo próximo e desejo sabedoria e saúde ao amigo”, diz o CEO da Rede Integração.
Leia a entrevista.
1 – Rogério Nery – Na sua visão, como o País — e Minas Gerais — está lidando com a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) nos aspectos sanitários e econômicos? Quais as políticas acertadas e quais deveriam ser repensadas?
Carlos Viana – Primeiramente, um abraço para você, Rogério. Uma alegria poder participar com você, aqui, respondendo e conversando sobre as questões do nosso País. Com relação à pandemia de Coronavírus, eu quero fazer aqui um pequeno histórico relembrando a Covid-19. O Coronavírus não era uma novidade. Desde o final do ano passado já tínhamos os alertas internacionais, já sabíamos que era algo muito perigoso e que poderia se alastrar muito rapidamente pelo mundo. Nós, brasileiros, infelizmente, perdemos uma grande oportunidade. Já naquele momento deveríamos ter pensado nas primeiras medidas de isolamento social, como no Carnaval, por exemplo. Imagine a quantidade de estrangeiros que vieram ao Brasil já contaminados e que nós só começamos a perceber um período depois. Minha opinião é de que nós deveríamos ter começado a tratar o assunto com a serenidade necessária lá no início do ano. Quando o alerta chegou de verdade é que nós começamos a perceber que poderia se tornar uma tragédia como, ao que parece, vai ser, batendo 100 mil mortos. Nós deveríamos ter caminhado conjuntamente numa decisão nacional. E aqui entra um problema sério da tradição da política brasileira, que é antecipar o debate fora de época eleitoral. O que foi que aconteceu? O presidente Jair Bolsonaro teve um posicionamento muito radical, ideológico, como sempre, que é a personalidade dele, e com aquela história de que com a caneta se define tudo. Não é verdade. Vivemos numa República Federativa, os Estados são independentes e devem ser respeitados. O resultado é que o Supremo Tribunal Federal (STF) deu uma decisão aos governadores, apenas cumprindo o que está na Constituição. Nós temos que trabalhar em conjunto. Essa é a grande missão de um presidente da República. Ele tem de ser um líder no diálogo, A autoridade não é a imposição, mas antes de tudo é a capacidade de convencer e trabalhar conjuntamente. Isso é ser líder. Mas aí, me vem, por exemplo, um governador do Estado de São Paulo, oportunista, antecipa o debate eleitoral de 2022, tenta criar um governo paralelo, mas sendo que o assunto principal era a saúde das pessoas para evitarmos as mortes. Resultado: nós não conseguimos um consenso. Caminhamos cada estado de uma maneira diferente, cada capital tomando a sua própria decisão, seu planejamento e as nossas barreiras sanitárias todas foram inúteis. Já estamos aí, nesse momento em que estamos conversando, com quase 70 mil mortos [Nota do editor: número quando o questionário foi respondido] e, como eu disse, podendo passar de 100 mil, que será um número muito triste para todos nós. O que eu espero sinceramente é que nós aprendamos com isso, que a gente possa tomar decisões pensando no país e não apenas nas questões políticas. Minas Gerais começou muito bem, até comemorou muito rápido, com números baixos; Belo Horizonte também com números baixos, mas eu sempre dizia: “Temos que tomar cuidado porque o sistema de saúde do nosso Estado é muito precário”. E não deu outra. Hoje temos quase 700 cidades com pessoas contaminadas, temos um sistema de saúde pública que é o segundo pior do Brasil e sem a tendência de queda nos números, assim como no restante do País. Ou seja, vivemos um momento muito delicado. Precisamos repensar um aprendizado, porque o mais importante, vou repetir, era salvar a vida das pessoas numa política com liderança nacional e nós não tivemos isso.
2 – Rogério Nery – De que modo o Congresso Nacional — e o Senado, em particular — vem contribuindo para atenuar os efeitos da pandemia?
Carlos Viana – No Senado, nós fomos os primeiros, juntamente com o presidente da Câmara, a tomar as decisões de votação em regime de urgência. Nós tivemos uma reunião no finalzinho do mês de fevereiro com a presença do ministro da Economia, do Banco Central e dos principais ministros do governo. E ali já se começou avizinhar a preocupação com o País e o isolamento, que acabou, como eu disse, não se tornando unânime, mas o País entrou nesta questão do isolamento. E nós, no Senado e na Câmara, começamos a votar em regime de urgência as medidas importantes para que o Governo Federal pudesse agir. E isso foi feito de forma emergencial. A questão do “Auxílio Emergencial”, por exemplo, nos ensinou que nós não conhecemos o Brasil. Esperávamos, além das pessoas do programa Bolsa Família, mais 15 milhões de pessoas. No entanto, o número foi muito maior e hoje atingimos 65 milhões de brasileiros com o benefício do auxílio. E isso nos mostrou que, para fazermos política pública, primeiro nós temos que saber quem são as pessoas. Quantas pessoas são? Quanto vamos gastar para ajudar essas pessoas? E em quanto tempo elas vão deixar de depender do dinheiro público? Então, essas medidas que votamos mostrou o tamanho do desafio que nós tínhamos no Brasil. Votamos também a questão da ajuda às empresas. O programa de apoio aos geradores de trabalho: hoje temos 10 milhões de trabalhadores brasileiros que estão no plano de manutenção do emprego, recebendo metade do governo e metade das empresas. Nós autorizamos o Banco Central a socorrer empresas brasileiras que operam no exterior, parcelando dívidas e comprando títulos, o que foi muito importante para continuar dando credibilidade a nossa economia. E nós temos plena consciência de que o déficit que estaria em R$ 129 bilhões para o ano de 2020 já poderá chegar aos R$ 400 bilhões, por conta da queda na arrecadação dos primeiros meses e dos planos de ajuda aos estados e municípios. Mas foram decisões bem tomadas e o Parlamento cumpriu o seu papel e segue cumprindo.
3 – Rogério Nery – Ao longo desse período de distanciamento social, o que, pessoalmente, mais lhe faz falta? E o que tem feito para se cuidar a nível emocional?
Carlos Viana – Na questão do distanciamento, o que mais me fez falta foi à possibilidade de trabalhar como eu gosto na política, que é visitando as cidades, conhecendo os problemas das comunidades, e das pessoas, ouvindo empresários locais. Trabalhar virtualmente no Senado nas votações é muito bom, mas a política se faz é estando perto, conversando. As pessoas querem ver a cara do político e eu gosto disso. Dos 853 municípios de Minas eu já conheço praticamente a metade, e permitindo Deus que eu tenha saúde, quero visitar o quanto for possível ao longo desses oito anos como Senador.
4 – Rogério Nery – No início de junho, o Banco Mundial divulgou uma estimativa que a economia global sofrerá contração de 5,2% neste ano (a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial) e que o tombo da economia brasileira pode chegar a 8%. Qual deve ser o projeto a ser adotado para a recuperação e que princípios devem pautar esse plano?
Carlos Viana – A questão da queda na economia ainda é uma discussão que nós não temos uma certeza. O Banco Mundial fez essa projeção de queda para países que têm uma economia muito maior do que a nossa e que podem se recuperar. No caso do Brasil, nós vamos ter uma queda, mas ainda não sabemos de quanto. Ainda temos seis meses pela frente ao longo do ano. Nós temos uma economia baseada na exportação, principalmente do agronegócio. A questão do dólar, na cotação de mais de R$ 5,00, é muito boa para nós. Outro ponto bom: temos juros negativos pela primeira vez em várias décadas. Ou seja, temos aqui duas alavancas importantes para retomada da economia brasileira no ano que vem. Com o dólar se mantendo acima de R$ 5,00 vamos nos reequilibrar e isso pode fazer com que, no ano que vem, tenhamos uma retomada até com a ajuda do Governo. Por exemplo, o Brasil tem R$ 350 bilhões em divisas. Se pegarmos R$ 50 bilhões deste dinheiro e colocarmos no mercado a R$ 5,00, seriam R$ 250 bilhões para ajudar nos investimentos. E, posteriormente, quando o dólar baixar, esta mesma reserva será reposta em um câmbio de até R$ 3,00. Por isso, eu vejo com muito otimismo o ano de 2021. O que espero é que a gente tenha logo uma vacina. Tendo a vacina, a retomada da economia, na minha opinião, será bem mais rápida.
5 – Rogério Nery – Um dos setores mais afetados pela crise é o de aviação civil. Qual a importância de promover reformas nos aeroportos regionais para estimular a economia de Minas e do País?
Carlos Viana – A questão da aviação civil: nós tivemos recentemente o pedido de falência da Latam nos Estados Unidos. É lá que ela tem os contratos de leasing, as despesas em dólar. A lei é mais rápida e dá mais benefícios à empresa. Mas, aqui, eu entendo que é o momento de nós organizarmos o nosso planejamento. Eu tenho trabalhado com o Ministério da Infraestrutura da seguinte forma: não adianta só reformar um aeroporto. Vou citar um exemplo do aeroporto de Governador Valadares. Tinha lá uma reforma prevista de R$ 32 milhões, desde 2017. Não se trabalhou no orçamento e obra não saiu. Vai sair neste ano. No ano passado nós começamos a discutir uma reorganização dos aeroportos regionais em Minas dentro de uma perspectiva que não seria somente trabalhar uma obra local. Seria, sim, criar ligações, criar possibilidades, inclusive de voos para outros estados. Neste ano de 2020, nós conseguimos transferir o Aeroporto da Pampulha para o Governo do Estado, o que vai fazer com que ele se torne um hub da aviação executiva e regional. Vamos, também, trabalhar quatro grandes aeroportos que vão se tornar melhores para recebimento de aeronaves maiores: Montes Claros, Ipatinga, Governador Valadares (já citado acima) e Itajubá, que nós estamos buscando terminar a pista para facilitarmos, inclusive, o desenvolvimento da pesquisa aeroespacial. Com isso, eu acredito que a gente possa entregar, em 2021, aeroportos melhores para a concessão. É o que virá. Nós teremos concessões em bloco. Esta é a previsão deste ano, incluindo os aeroportos de Uberlândia, Uberaba e outros que serão entregues em um projeto regional, para que estas cidades possam ter voos em maior quantidade para outras capitais. Portanto, é um momento de começar a repensar um planejamento futuro.
6 – Rogério Nery – Minas é a unidade de federação com mais municípios (853) e a Covid-19 terá um reflexo significativo na arrecadação das prefeituras com o fechamento de muitos serviços. Que políticas devem ser criadas para evitar que as cidades – especialmente as de médio e pequeno porte – sejam ainda mais impactadas, especialmente na prestação de serviços públicos?
Carlos Viana – A meu ver, Minas Gerais comemorou muito cedo os índices baixos de contaminação. Somos o Estado com o maior número de municípios em nosso País e, ao mesmo tempo, o Estado que tem a segunda pior saúde pública do País. São quase 300 hospitais filantrópicos e Santas Casas em situação muito ruim financeira e administrativamente. É preciso melhorar a administração destas instituições. O governo mineiro demorou a agir e nós precisamos fortalecer o atendimento nos hospitais de base, os hospitais de referência e, junto aos municípios, começar a planejar antecipadamente as ações pós-pandemia. O Estado precisa começar a trabalhar com as prefeituras também buscando os incentivos necessários para que essas prefeituras possam retomar o crescimento. Da parte do Governo Federal e do Congresso, nós já ajudamos muito. Todas as prefeituras receberam um aporte importante para que elas possam manter o serviço em funcionamento.
7 – Rogério Nery – O senhor foi o relator no Senado da chamada “CPI de Brumadinho”. Que projetos o senhor defende para que o País evite desastres humanos e ambientais como esse, conciliando sustentabilidade social, econômica e ambiental numa atividade, a mineração, que é uma das principais fontes de recursos em Minas?
Carlos Viana – A CPI de Brumadinho mostrou para nós, brasileiros, o quanto nós exportamos e não somos beneficiados com aquela exportação. Somente a entrada de capital estrangeiro não é o suficiente. Nós temos ali o problema de barragens, que ficam para trás, de empresas que fecham e deixam o passivo. Nós temos a questão dos estragos, não só nas áreas atingidas quando se rompe uma barragem, mas a responsabilização que antes era só para o CNPJ das empresas. Eu tenho um projeto, de minha autoria, que prevê que o CPF também dos diretores passe a constar como crime ambiental, para que possamos aumentar a punição, já que o CNPJ não toma decisão sozinho. Tem a questão da tributação: nós temos uma CEFEN de 3,5%, o que é um absurdo. Você tem em Minas Gerais um minério mais pobre, que eles chamam de Itabirito, com 30% de riqueza. Você tem lá em Carajás (PA) um minério que tem 70% de riqueza. Portanto, em Minas, para se ter uma tonelada, gasta-se muito mais do que lá no Pará, que inclusive está próximo de um Porto. Eles pagam a mesma coisa para o País. É errado isso, é pouco. Se nós compararmos com a Austrália e o Canadá, como fizemos na CPI, nós estamos muito atrás. Nós temos condição de claramente definir o que nós queremos da mineração. Um dos projetos é o fim das barragens: nós acabarmos com as barragens em 10 anos, mas enfrenta muita resistência, porque os grupos internacionais de investimento naturalmente entendem isso como ameaça ao negócio deles. Mas a contribuição da CPI foi muito importante.
8 – Rogério Nery – Quais são as vantagens do novo marco do saneamento, aprovado recentemente pelo Senado? De que modo prático essa nova lei poderá contribuir para que os municípios de Minas, por exemplo, possam ter avanços rápidos nesse serviço básico que tanto tem reflexos na qualidade de vida das pessoas?
Carlos Viana – O Marco do Saneamento Básico é uma mostra de como o Brasil está atrasado. Vamos falar de Minas Gerais: apenas um pouco mais de 30% do esgoto é recolhido e tratado. A maioria das pessoas, cerca de 90% das pessoas, tem água encanada. Mas a qual preço? Na poluição de rios e córregos do nosso Estado. E a empresa estatal – Copasa – sempre viveu do mesmo problema das outras estatais. O governo sem dinheiro retira os dividendos antecipadamente e acaba tirando da empresa o caixa que ela tem para investir na manutenção e ampliação dos projetos. Com juros muito altos para questão dos projetos, as estatais acabam não cumprindo com papel delas e não querem também assumir pequenas cidades. Agora, o que vai acontecer? Os prefeitos de municípios menores vão poder se juntar em consórcio e naturalmente buscar solução para a questão do saneamento básico. Votei a favor do Marco do Saneamento Básico e entendo que é uma demonstração de que o Brasil quer crescer, quer ser novo. Só o pessoal que defende as estatais e emprego público é que, naturalmente, se sentiu incomodado, mas o futuro chegou e precisamos encarar com muita seriedade.
9 – Rogério Nery – Minas é um estado com regiões distintas, que apresentam diferenças ainda gritantes nos indicadores socioeconômicos. O que é preciso fazer para melhorar esses indicadores a médio e longo prazos? A curto prazo, um eventual programa nacional de renda mínima, em discussão, pode atenuar os efeitos econômicos sobre as populações dessas regiões que mais sofrem com a desigualdade?
Carlos Viana – Nessa questão da renda mínima, Minas Gerais é um exemplo muito interessante. É um resumo do Brasil. Nós temos aqui uma região Sul que é mais desenvolvida, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto. Temos um Planalto do Araxá com IDH alto, inclusive há cidades com índice superior a algumas cidades da Europa. Temos um Triângulo Mineiro com um desenvolvimento impressionante. Mas temos duas regiões em Minas que são a demonstração clara de que nós crescemos, mas deixamos para trás uma parte dos mineiros, que é o Norte e o Jequitinhonha. Eu tenho trabalhado com muita atenção ao Norte, porque são terras planas, irrigáveis e que precisam naturalmente de uma atenção com relação às barragens. E é isso que nós temos trabalhado. Nós conseguimos do governo Bolsonaro quase R$ 100 milhões em investimentos no Norte. Com esse dinheiro nós vamos retomar obras de irrigação, vamos gerar 10 mil empregos diretos. Há obras paradas há seis anos. Nós conseguimos retomá-las com dinheiro das minhas emendas e com dinheiro do Governo Federal, que capitalizou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Temos barragens, como a de Jequitaí, parada há oito anos, que pode ajudar até 600 mil pessoas. Mais de R$ 180 milhões já foram investidos e a barragem não ficou pronta. Então, nós agora estamos retomando. E a questão do Jequitinhonha, nós precisamos mudar a imagem do Vale. Essa história do Vale da pobreza e da miséria é muito ruim. O Jequitinhonha tem uma vocação muito grande para fruticultura. Estamos agora trabalhando e conseguimos do Ministério da Infraestrutura o asfaltamento de uma BR-367, que é de terra em sua maioria, uma estrada da época de Juscelino [Kubitschek] entre as cidades de Almenara e Salto da Divisa, que chega até a BR-101, e, assim, vamos ter um corredor de escoamento da fruticultura para o porto de Ilhéus (BA), que se tornará um grande hub graneleiro com a ferrovia que está sendo feita lá. Nós teremos grãos sendo transportados do Mato Grosso e Tocantins para Ilhéus, e a fruticultura do Jequitinhonha pode crescer muito. Eu acredito que nós precisamos desenvolver Minas de forma igual, e isso passa pela geração de emprego. Como citei no início, nós temos, no Brasil, 65 milhões de pessoas que foram beneficiadas com o auxílio emergencial. Destas, 28 milhões nunca tiveram uma conta bancária, ou seja, não existiam, não contribuíam com a Previdência, passaram de forma despercebida nos nossos Censos. E nós precisamos decidir como é que nós vamos fazer para ajudar esses brasileiros, mas fazer com que eles não dependam disso (auxílio) para o resto da vida. O Bolsa Família, por exemplo, tornou-se um programa assistencialista e se você cortar hoje o pagamento às famílias, elas voltam à miséria, ou seja, o programa tem um erro e ele precisa ser refeito. E o erro foi cometido quando da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, de triste memória, quando decidiram não mexer e não fazer uma pesquisa em profundidade, como deveriam, no Bolsa Família, para não ter risco de perder a eleição, pois já sabiam que havia um erro ali. Nós precisamos aprender com esta questão da renda mínima. Nós temos que socorrer estes brasileiros, mas trabalhar na geração de emprego, renda, desenvolvimento regional, escolas públicas de qualidade, os jovens do ensino médio saírem com uma profissão, podendo ser feito em conjunto, por exemplo, com o Senai e com o Sesi na formação de mão de obra. Falta planejamento, tem faltado cabeça. A gente está em uma discussão, muitas vezes de crises, e esquecemos de planejar o futuro que nós queremos para o País.
10 – Rogério Nery – Há uma ampla discussão em todo o mundo sobre as chamadas fake news. O senhor acredita que o PL 2630/2020 encaminhou uma solução equilibrada para esse tema? Por quê?
Carlos Viana – Eu votei contra o PL 2630, apesar de entender que nós precisávamos fazer sim mudanças importantes na questão do anonimato nas redes, porque virou um absurdo. Um sujeito lança uma mentira, você não consegue tirar, e essa mentira vai circulando e vai longe na rede social. Mas o problema é que foram agregados ao Projeto uma série de retrocessos, na minha opinião. Por exemplo, a questão da publicidade: nós estamos falando em campanhas internacionais digitais, nós falamos em investidores de qualquer lugar do mundo que podem investir pela rede no Brasil, como a Amazon, por exemplo, e aí o relator do Projeto incorporou ao PL 2630 uma lei de 1965 para regular publicidade, uma lei do Castelo Branco, do governo militar. Como vamos trabalhar na era digital com uma lei dos anos 60? A questão, por exemplo, da propriedade intelectual, qualquer pessoa que citar um escritor, como por exemplo, Fernando Pessoa, Ariano Suassuna, entre outros, vai ter que pagar por aquilo. Mas vai pagar como? Quanto? Essa questão do direito autoral para jornais e televisões, que foi outro lobby muito forte, nessa questão da produção da intelectual. Na Europa se discute muito em relação a isso, se este conteúdo tem que ser pago ou se quando a rede social expõe esse conteúdo, ela (TV e Jornal) aumenta a possibilidade de faturamento e de audiência. É uma discussão que tem que ser feita no âmbito da modernidade, no contemporâneo e não com pensamento nos anos 60. O relator tem uma visão de política muito diferente. Nós aqui em Minas sabemos da profundidade das redes sociais, da necessidade de preservarmos essa independência. A liberdade de opinião e a neutralidade da rede são pressupostos internacionais para que as democracias possam avançar. Por isso meu voto contra o PL 2630.
Um grande abraço Rogério. Muito obrigado pela possibilidade de participar. Desejo-lhe boa sorte. Um abraço à gente querida de Uberlândia.
*Questionário enviado em 30 de junho de 2020 e respondido em 10 de julho de 2020.