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Rogério Nery entrevista: Thascya, DJ e produtora

Em mais de 10 anos de carreira, a DJ e produtora Thascya Spirandelli coleciona conquistas.

Começou sua carreira em 2008 e já no início da década entabulou sucessivos prêmios na revista de música eletrônica DJ Sound. Mas a mineira de Uberlândia passou a ganhar
mais destaque em 2012, quando foi eleita “DJ do Ano” pela revista VIP, da editora Abril.

Entre outros diversos prêmios da mídia especializada, um dos mais expressivos veio em 2016, ano em que seu nome apareceu na parada da Billboard, a mais célebre revista musical, em Top9, com o remix de “Can’t Stop The Feeling”, sucesso de Justin Timberlake.

Curiosamente, o trabalho foi finalizado nos últimos dias de sua segunda gravidez. Duas semanas depois, Thascya já estava de volta ao trabalho. Um sintoma da intensidade com que a DJ está a acostumada a conduzir sua carreira, repleta de apresentações no Brasil e no exterior, incluindo em países como Suíça, Espanha, Portugal, Inglaterra, México, Colômbia e Estados Unidos.

Com a chegada da pandemia, festivais sumiram de cena, mas não a sua capacidade de produção. Thascya tem um estúdio em casa e investe seu tempo em um trabalho cada vez mais autoral.

“Estou numa busca diária em me desenvolver no autoral, ou seja, nas minhas próprias
músicas. E é um legado que quero deixar para o mundo, para motivar, inspirar, entusiasmar pessoas, a se sentirem melhores, ou se identificarem e se sentirem incluídas num contexto”, diz ela, que já dividiu o palco com artistas como David Guetta, Bob Sinclair e Fatboy Slim e, em 2019, lançou o single “Que seja com você” em parceria com o cantor Léo Santana.

Apaixonada por atividade física, Thascya tem vários sonhos – e um deles é completar o Iron Man. Carateca, ela combina corridas e outros exercícios com a meditação, antes de suas duas filhas (Sol e Ivy) despertarem.

Outro orgulho é controlar a própria carreira. “Thascya é um exemplo de determinação, de alguém que buscou seu espaço a base de muito trabalho e dedicação, conquistando reconhecimento pelo seu talento“, diz o superintendente da Rede Integração, Rogério Nery.

Uma das batalhas da DJ é contra o preconceito:

“Eu acredito que estamos num processo evolutivo para banir o machismo da sociedade, mas ainda há muito o que melhorar.”

Veja a íntegra da entrevista.

1 – Rogério Nery – Boa parte da sua vida está relacionada ao contato com muitas pessoas, festas e grandes eventos. Onde tem buscado força para manter o equilíbrio emocional durante a pandemia?

Confesso que no início da pandemia eu dei uma pirada. Não consegui me manter emocionalmente forte. A incerteza, a falta de controle no trabalho, a preocupação com os meus colaboradores, a família e a situação do mundo como um todo me deixaram com medo. Sentimento que normalmente não acesso da forma como foi acessado. Com isso, a meditação, que já faz parte do meu dia a dia há muitos anos, se tornou mais intensa e mais longa. Antes a praticava apenas pela manhã ao me levantar. E hoje eu pratico ao dormir também. Foquei na alimentação 100% saudável, eliminei todo lixo alimentar para auxiliar na minha mente e no corpo são. Aumentei a minha prática de exercícios, que para mim é terapêutico, e busquei ainda mais acessar o autoconhecimento, com leituras, lives sobre o tema, terapia, documentários e trocando ideias com pessoas que admiro.

2 – Rogério Nery – Profissionalmente, como tem sido para você esses tempos pós-pandemia? Como tem feito para se manter produtiva e que projetos vem desenvolvendo? E como vê o cenário para os DJs nesses tempos em que qualquer aglomeração está praticamente banida até que a vacina chegue?

É um momento para se reinventar em todas as áreas, na minha opinião. No primeiro momento fiz muitos cursos, até mesmo porque várias escolas liberaram gratuitamente conteúdos valiosíssimos. Venho me aprimorando cada vez mais em mim mesma, na busca pelo autoconhecimento. Desenvolvi alguns projetos, sim, que é o que tem mantido a minha mente produtiva. O trabalho não parou, apenas a receita. Mais do que nunca estou bastante ativa e atenta a oportunidades, que também existem. É bem imprevisível a volta de festas, shows ou qualquer evento que envolva aglomeração. Os DJs, de um modo geral, estão criando conteúdos digitais, a fim de permanecerem lembrados, apesar de financeiramente estarmos em crise.

3 – Rogério Nery – Em um post nas suas redes sociais, você disse que está cada vez mais engajada com marcas com propósito e, negócios que se preocupam com a comunidade. Você acredita que essa pandemia será de fato um divisor de águas para um mundo mais empático e solidário? Por quê?

Acredito que usar a minha influência com marcas com propósito de fato colabora para levar informação e ou até mesmo conscientização das pessoas a respeito de ensinamentos que normalmente são omissos a nós. Eu mesma venho aprendendo diariamente com essas empresas que estão preocupadas e zelosas com a forma de consumo. Percebo que já há um “novo normal”. A sociedade eliminou alguns padrões e adotou outros. Noto que, até mesmo nas relações interpessoais, as pessoas têm se engajado mais com o todo e isso afeta o planeta de um modo geral positivamente. É claro que é um processo evolutivo e de progresso, mas o movimento já está acontecendo e acredito que viveremos cada vez melhor.

4 – Rogério Nery – Como é o seu processo criativo? Tem um insight e passa a explorar variações daquela ideia? Inspira-se em referências e quais? Pesquisa bastante? Gosta de trabalhar sozinha ou com outras pessoas?

Meu processo criativo normalmente é um conjunto de intuição com as experiências que vivencio. Quando algo me ocorre, eu pesquiso para ver se já existe. E se já existir eu pesquiso a partir dali também. E vou explorando a ideia, questionando e, a partir disso, vai criando forma, trazendo para o meu business. Sou bastante observadora e a todo momento estou pesquisando, seja durante a corrida, assistindo outros artistas, no contato com a natureza, brincando com as minhas filhas, lendo… Encaro tudo como um grande laboratório para qualquer nova ideia. Eu gosto muito de trabalhar com pessoas, mas também sinto necessidade de estar sozinha. Tudo depende da situação. Mas normalmente no processo criativo eu fico mais isolada.

5- Rogério Nery – Além da produção e as turnês, sua carreira envolve todo um processo de gestão, que vai da parte comercial até a logística das viagens e comunicação nas redes sociais. Por que você gosta de gerenciar a sua própria carreira? E como faz para cuidar dela? Qual é a rotina básica?

A minha carreira sou eu. Ninguém melhor para cuidar dela do que eu mesma. Porém, isso não me impede de querer trabalhar com outros gestores, mas sou muito participativa no todo, conheço todos os processos para a empresa rodar e as necessidades dela. Tenho uma equipe para cada situação. É muito bom ser minha própria gestora, mas há também alguns desafios. Eu acompanho um sistema de prestação de contas que eu tenho, que envolve pagamento, recebimento, datas de entregas. Acompanho a minha agenda que me orienta nos afazeres do dia a dia, e-mail toda hora e quando há necessidades burocráticas aciono a minha contabilidade, que é terceirizada. Todos os dias estou no estúdio produzindo e/ou estudando.

6 – Rogério Nery – Todo mundo vê a atividade de DJ como a de um notívago entusiasta, mas você assumidamente gosta de acordar cedo. Como faz para conciliar, com a mesma energia, as distintas exigências da vida diurna e noturna? E o que você gosta de fazer para manter esse equilíbrio?

Eu gosto muito da noite, mas amo o dia. Nos finais de semana, quando não estávamos em quarentena, eu não consigo manter a rotina de acordar cedo, porque normalmente durmo no horário que acordo durante a semana. Mas é uma questão de disciplina, mesmo. Eu percebo que quando aproveito mais o dia, produzo melhor, consigo trabalhar no horário comercial como a maioria das pessoas do mercado, aproveito as minhas filhas e as minhas atividades pessoais. Eu amo praticar atividade física e o período da manhã é o meu predileto também. Adotei esse life style depois que me tornei mãe. Quando acordava junto com as crianças, ou, às vezes, até depois, me sentia estressada, porque criança demanda muita energia e atenção da mãe. E eu me sentia me deixando de lado. Então, para me aproveitar melhor, eu me condicionei a despertar antes delas. Então eu medito, leio e treino. E, quando elas acordam, estou ótima comigo mesma, sem stress e fluindo leve ao atendê-las.

7 – Rogério Nery – Sua trajetória supera fronteiras com apresentações concorridas no Brasil e exterior, inclusive nos Estados Unidos. O que há de cosmopolita em você? E o que você conserva de uma típica mineira de Uberlândia?

Sou cosmopolita no estilo de me vestir, na atitude com as pessoas também. Me considero muito aberta a tudo e todos, mas sou bem bairrista, amo Uberlândia – a qualidade de vida que tenho aqui é incrível. O povo mineiro é bem caloroso, atencioso e acho que conservo essa característica em mim. Ah! Além da comida mineira que, para mim, é a melhor que existe (Rs)

8 – Rogério Nery – Em outras entrevistas você relatou sofrer cantadas inconvenientes e até mesmo assédio enquanto estava trabalhando. Como você lida com isso? Na sua opinião, ainda falta muito para que as mulheres superem o machismo ainda crônico? E como vê movimentos internacionais como o #MeToo, que levou às cordas muitos nomes da indústria cultural?

Isso é extremamente constrangedor, ainda mais quando acontece no trabalho. Hoje eu sei me posicionar melhor perante situações assim. Mas já me fiz de planta algumas vezes por me sentir sem reação mesmo. Eu acredito que estamos num processo evolutivo para banir o machismo da sociedade, mas ainda há muuuuuuito o que melhorar. Estamos longe do “mundo ideal”, porque o machismo está na sociedade de forma geral e isso inclui mulheres machistas também. Fomos ensinadas a ser machistas e graças à luta de mulheres, com despertar de consciência, corajosas e poderosas, estamos cada dia mais moldando a sociedade com um novo tipo de consciência sobre o feminino. O #MeToo é o início de algo maior, um toque para as pessoas buscarem mudanças em seus ciclos e melhorarem o sistema, principalmente aquelas pessoas que não têm o poder para lutarem sozinhas.

9 – Rogério Nery – Você se vê como uma inspiração para jovens – especialmente as meninas – que pretendem trilhar uma carreira como DJ? E quais são as habilidades e os atributos e valores que você recomenda para quem deseja perseguir esse ideal?

Somos mestres e aprendizes uns dos outros, até mesmo pessoas que estão iniciando na carreira ensinam aos veteranos. É um ciclo de troca enriquecedor. Acredito que o que sou revela muito sobre mim, sobre a minha carreira e isso motiva sim as pessoas, de que se “eu consegui” ela também pode. Isso inclui meninas, meninos, homens, mulheres. Independente da carreira, ofício, que escolhemos, é muito importante nos conhecermos, para saber o que de fato SOMOS. Isso é um processo que pode levar tempo ou não. Não existe regra. O que deu certo para mim, não quer dizer que necessariamente dará certo para outro. Mas o que recomendo é a pessoa se sentir de fato parte, pertencente na música, na arte. Independente das consequências. Porque se você exerce o que é verdade para você, com honestidade, amor, paixão, empenho e disciplina, tudo dará certo – você sendo DJ, produtor musical, médico, terapeuta, empresário, pai, mãe, esportista etc.

10 – Rogério Nery – Você já foi aclamada em diversos prêmios, tocou em festivais importantes aqui e no exterior e já dividiu o palco ou abriu para artistas como David Guetta, Beyoncé e Bob Sinclair. Quais são os seus sonhos e desafios profissionais? E os pessoais (correr o Iron Man, por exemplo)? O que você vem fazendo para atingi-los? Como você se vê daqui a cinco anos? E, por fim, qual o mashup inusitado que você ainda não fez e adoraria fazer?

O meu sonho na carreira é conquistar pessoas através das músicas que lanço. Estou numa busca diária em me desenvolver no autoral, ou seja, nas minhas próprias músicas. E é um legado que quero deixar para o mundo, para motivar, inspirar, entusiasmar pessoas, a se sentirem melhores, ou se identificarem e se sentirem incluídas num contexto.

Na minha vida pessoal eu tenho buscado, a cada dia mais, me conectar comigo mesma, me conhecer e me permitir seguir o fluxo natural do meu eu, independente das imposições culturais e sociais. Tem sido revelador. Eu quero conhecer muitos lugares com as minhas filhas, construir memórias afetivas com elas vivendo experiências fora do contexto brasileiro. Quero, sim, completar um Iron Man – inclusive comecei a treinar nessa quarentena visando esse objetivo (rs)

Daqui a 5 anos me vejo feliz, realizada, curtindo muito com as minhas filhas, desfrutando do que venho plantando há algum tempo, profissionalmente falando. Me vejo mais engajada nos projetos filantrópicos e em causas sociais. Com um leque maior de possibilidades de negócios, também.

Eu quero muito lançar músicas com vários artistas da indústria fonográfica nacional e internacional. Esse movimento já se iniciou, mas quero muito mais. Um mashup que quero fazer é misturar muitos estilos em uma só trilha. Que inclusive é um projeto que em breve apresentarei. Que já está no forno (Rs)

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