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Morte de Marília Mendonça cala voz quente que renovou o repertório popular da velha dor de corno

 OBITUÁRIO – Tão precoce quanto inesperada, a morte de Marília Dias Mendonça (22 de julho de 1995 – 5 de novembro de 2021) deixa o Brasil em choque. Queda de avião no munícipio mineiro de Piedade de Caratinga (MG) cala, aos breves 26 anos, uma das vozes femininas mais importantes e mais quentes da história da música sertaneja.

Marília Mendonça foi simplesmente o nome mais relevante do universo pop sertanejo nos anos 2010, a ponto de ter capitaneado nesse gênero historicamente masculino, a partir de 2015, poderosa corrente feminina rotulada como feminejo que alavancou as carreiras de seguidoras como Maiara & Maraisa, Naiara Azevedo e Simone & Simaria.

Com a dupla Maiara & Maraisa, Marília formou o trio Patroas e lançou em outubro Patroas 35% (2021), álbum que, por força das circunstâncias trágicas, se tornou o derradeiro título de discografia iniciada pela cantora em janeiro de 2014 com a edição do EP Marília Mendonça (2014).

Nascida em Cristianópolis (GO) e criada em Goiânia (GO), Marília Mendonça foi cantora e compositora de números superlativos, obtidos em trajetória artística que a rigor contabilizou apenas uma década iniciada em 2011, mas seria injusto creditar os méritos da artista goiana somente ao poder comercial do repertório da artista.

Até porque, se Marília Mendonça angariou tanto sucesso popular em tão pouco tempo, a razão dessa soberania mercadológica no universo pop brasileiro está diretamente ligada à força do cancioneiro popular e despudorado dessa cantora de voz grave e passional.

Marília Mendonça foi quem mais bem deu voz, nos últimos cinco anos, ao estilo de música rotulada como sofrência. A rigor, um novo nome para designar as canções que versam sobre a velha dor de corno, assunto recorrente na música brasileira desde que o samba é samba.

Dando voz ativa às mulheres, Marília Mendonça renovou e ampliou o repertório desse tipo de música já bem conhecida do universo sertanejo. Só que a cantora tinha aquele indefinível “algo mais” que caracteriza as estrelas de luz própria.

Embora fosse também compositora disputada no meio sertanejo, por conta da habilidade para escrever versos como “Me apaixonei pelo que inventei de você” (da letra da música De quem é a culpa?, parceria da artista com Juliano Tchula lançada em 2017), Marília Mendonça também teve a sábia humildade de gravar músicas alheias de forte apelo popular.

Marília Mendonça em ação no palco, onde seduzia multidões — Foto: Divulgação

Marília Mendonça em ação no palco, onde seduzia multidões — Foto: Divulgação

Sucesso do álbum Realidade – Ao vivo em Manaus (2017), registro de show que consolidou o sucesso obtido pela artista em 2016, Eu sei de cor (Danillo Davilla, Elcio di Carvalho, Lari Ferreira e Junior Pepato, 2016) é música sem a assinatura da compositora que se tornou hit instantâneo na voz da cantora.

Contudo, antes, em julho de 2015, o lançamento do vídeo com o registro ao vivo da música Infiel (Marília Mendonça, 2015), tema da lavra solitária da autora, já revelara compositora dotada da vocação para falar a língua do povo.

O bolero Infiel faz parte do repertório do álbum e DVD Marília Mendonça ao vivo (2016), gravação de show que deu o impulso definitivo à carreira dessa cantora que sai de cena com um futuro pela frente.

De lavra própria ou alheia, o repertório da cantora conhecida como rainha da sofrência versou sobre abandonos, traições, saudades, desilusões e insatisfações amorosas, com a intérprete alternando-se nos muitos papéis desse roteiro afetivo, mas sempre sob prisma feminino e com letras diretas, o que fez toda a diferença.

Como toda artista da geração pop do século XXI, Marília Mendonça também investiu muito nas colaborações, inclusive fora do universo sertanejo, tendo gravado músicas com Anitta, Gal Costa, Léo Santana, Luísa Sonza e Péricles, entre muitos outros nomes.

Contudo, a parceria mais famosa, duradoura e rentável da artista foi com Maiara & Maraisa. Inspirado pela Festa das patroas, comandada pelo trio em 2016, o projeto Patroas rendeu singles, EPs e álbuns. O que fez com a discografia solo de Marília Mendonça contabilize somente três álbuns, incluindo o derradeiro Todos os cantos (2019), lançado há dois anos com gravações feitas em todas as capitais do Brasil, atestado do alcance nacional da voz da cantora.

É muito pouco para cantora que ainda tinha muito o que fazer na música brasileira. Constatação que somente aumenta o choque do Brasil com a repentina saída de cena de Marília Mendonça na tarde triste desta sexta-feira, 5 de novembro de 2021.

Fonte: G1 Mauro Ferreira

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