Veja mais trechos da entrevista com Zezé Di Camargo:
g1 – Vou começar pela pergunta que mais me fazem, atualmente, sobre a dupla: afinal, Zezé Di Camargo e Luciano separaram ou ainda estão juntos?
Zezé Di Camargo: Não, estamos juntos. Zezé Di Camargo & Luciano é a minha vida. A gente sempre fala que é uma instituição. Zezé Di Camargo & Luciano não pertence mais a Zezé Di Camargo e Luciano, pertence aos nossos fãs. Mas não me impede de querer… é igual você ter uma empresa, você abre a matriz. A matriz é tal. Você não pode abrir mais uma matriz, mas você pode abrir as filiais. Eu diria que o “Zezé Di Camargo Rústico” é uma filial do Zezé Di Camargo e Luciano.
g1 – E como foi gravar solo depois de tantos anos gravando em dupla?
Zezé Di Camargo: Não tem uma diferença assim. Porque na verdade, quando a gente gravava, sempre eu que cuidava de tudo já. Quando gravava, não. Quando a gente grava, sou eu que cuido dos arranjos, montagem de repertório, tudo. Coloco minha voz e depois o Luciano vem e coloca a dele. Nessa parte é tranquilo porque eu sempre fiz essa sozinho. E ele sempre fez questão disso também, o Luciano.
Eu acho que vou sentir mais falta no palco, a hora que você vai cantar, vira pro lado ali, tá sempre o irmão. Mas eu acho que também só nos primeiros shows. Claro que vai fazer diferença, porque é uma vida juntos, mas tranquilo.
Quando vem pra somar e que eu esteja feliz fazendo, e ele também esteja feliz fazendo a parte dele, que ele gosta, acho que não há razão pra gente achar ruim. A gente tem que agradecer a Deus por nos dar competência de poder fazer tanta coisa boa.
g1 – Vi que o disco tem vários compositores que são assíduos no universitário, no feminejo, como o Henrique Casttro, o Maykow Melo e o Bruno Mandioca. Como foi gravar músicas dessa turma da nova geração, já que é um projeto mais ‘rústico’, que mostra sua raiz?
Zezé Di Camargo: O compositor, na verdade, o importante foi o que ele compôs. O movimento pra eu fazer esse disco nasceu em Goiânia. O estúdio é de lá, o produtor é de lá, que é o Felipe Duram, o escritório do Emanoel, que é meu empresário no projeto, é de lá, eu convivendo com todo mundo… Então quando eles [compositores] ficaram sabendo, ‘ah, o Zezé vai fazer um assim, quero mostrar música pro Zezé’. A maioria tinha muita vontade de gravar com a gente. Vamos ouvir, poxa.
Aí eles trouxeram e eu falei: ‘traz aquilo que vocês acham que a galera não vai gravar hoje. Coisas que vocês fazem, coisas que vocês não iam gravar, e às vezes nem mostram pras pessoas, porque acham que elas não vão gravar’.
Aí eles trouxeram. As músicas são maravilhosas, poderia ter sido feita por mim, por um cantor romântico como Roberto Carlos, Peninha…
Claro que eles fazem muita coisa comercial do momento, que o mercado exige, mas também fazem as coisas com mais sentimento, como é “Banalizaram”, músicas com mais conteúdo. É o mercado que dita essas regras, essas normas.
E como eu nunca vou pro lado que está todo mundo indo, eu gosto muito de fazer essa coisa diferente do que está surgindo.
Zezé Di Camargo posa para fotos durante evento de lançamento em São Paulo de seu novo álbum em carreira solo — Foto: Fábio Tito/g1
g1 – Você acabou de falar que as músicas poderiam ser feitas por você. Por que não aproveitar o projeto solo pra fazer um álbum totalmente autoral, só de composições suas?
Zezé Di Camargo: Também. A ideia, de repente, no próximo, é fazer isso. A minha preocupação era muito grande agora de mostrar algo que talvez esteja fora de moda do mercado, esse tipo de música — voltei lá atrás, nos anos 1990 –, firmar isso. O próximo projeto de repente, pode ser.
Há na minha cabeça há muito tempo fazer um projeto autoral. Mas eu acho que vai ter a hora certa pra tudo. Isso culminou agora com a música nova, o projeto novo com a minissérie da Netflix, o momento meu lá na fazenda, veio muita coisa junto. Colocar, sei lá, um Zezé Di Camargo autoral, talvez seria pisar mais no fundo.
Não sei, não pensei nisso também. Não estou dizendo que não fiz por isso, que calculei isso. Não. Eu fui ouvindo as músicas, fui gostando e falei: ‘vou gravar essa, vou gravar essa’, e o compositor Zezé Di Camargo acabou ficando de fora. Mas como vou reviver algumas lá de trás pro DVD, então vai ter coisa de Zezé Di Camargo como compositor.
g1 – Você, ainda durante a pandemia, teve a “fuga” ali pra fazenda e aproveitou para cuidar da voz. Queria que você falasse um pouco desse momento, desse processo de cuidado com a voz. O que você fez e como você está se sentindo agora pra cantar?
Zezé Di Camargo: Leve, leve. Totalmente leve. Vão notar aí na hora que eu cantar.
Acho que era algo necessário. Mas eu não tinha tentado pra isso. ‘O que você precisa? Para, cara, dá um tempo pra você. Pensa no que você vai fazer agora. Vai por outro caminho’.
Acho que isso tudo me ajudou muito. Foi tudo meio que involuntariamente. Nada foi premeditado. A pandemia veio e te impôs as situações. Você não esperava nada daquilo. Mas me fez um bem danado. Agora, vendo aquilo, eu tô tomando como experiência: ‘peraí, o caminho que eu tenho que seguir, na vida, como um todo, é esse’.